segunda-feira, dezembro 28, 2009

O ultimo post do ano. Ou: noites quentes

Sinto saudades de coisas que nunca vivi
De bocas que nunca beijei, lembro de jantares românticos que nunca existiram
Acordo sentindo o teu cheiro na cama que não cabe dois.
Eu não escrevi um livro e ganhei um pulitzer
Eu não canto e ja estive no emmy, sou um ator caricato e ganhei um oscar
Não beijei um vampiro e sou imortal.
Eu sou o tempo que dura um cigarro, a distância que um grito pode alcançar, sou uma brasa no escuro, a gota de suor na testa bronzeada
O tempo que dura uma noite, a musica da pista.
Os teus olhos fechados.
Eu sou o do espelho e moro invertido
E para me ter você vai ter que quebrar

sexta-feira, outubro 16, 2009

Um outro Lado

Há uma parte melhor em mim.
Essa parte é cheia de sons e cores
E fúria.
Ela é feita de música, cinema e letras.
Tudo misturado e ao mesmo tempo
Cores fortes, vermelho vivo
Tão nítido que chega a doer
Carrega o coração fora do peito
Queima
É minha parte melhor
Ama a vida e tudo ao redor
Seus olhos vêem quase tudo
E tudo o mais faz sentido
Pulsa
Essa parte gosta da madrugada
De guitarras e pandeiros
Ela vive só, mas não solitária
Ela ri de si o tempo todo
Tem um sorriso lindo
E faz dele o cartão de visita
É uma parte mais sincera, mais humana
Mais bonita
As vezes ela sai para a rua durante o dia
É notada, tocada e amada
É meu norte
O meu forte
Essa parte tão intensa é que eu mais gosto em mim.
E é ela, só ela, que eu procuro quando paro distraído diante ao espelho!

terça-feira, outubro 06, 2009

Minhas Urgências

Um desabafo, um segredo ao pé do ouvido
Talvez depois que eu terminar de escrever isso eu queime ou jogue em um rio de água correntes e claras.
Talvez eu coloque numa garrafa e jogue no mar.
Ou nada disso.
Tenho certas urgências
Preciso desesperadamente de um cigarro quando estou esperando: A sessão de um filme, na fila de qualquer coisa, uma ligação, ou quando estou flertando na balada.
Ridículo. Mas aos Trinta anos eu ainda preciso ter alguma coisa nas mãos.
Tenho urgência de uma leitura no metrô, uma revista, um livro ou mesmo um jornal.
Sem isso minha cabeça se desprende, meus pensamentos vão para lugares desconhecidos e crio mundos e histórias paralelas e ai é preciso uma caneta, um papel, um gravador, e não há.
Sou tomado então por um desespero e sucumbo.
Urgência de um óculos escuros em dias claros.
De uma coca cola estupidamente gelada no verão.
De ventilador e janelas fechadas.
Não serei hipócrita! As vezes urgências de fugir
Lsd, ecstasy ou até mesmo a boa e velha maconha.
De som alto, de loucura não roubada.
De um apartamento de 70 metros quadrados, um carro.
De uma mão sobre as minhas.
De um colo enquanto eu leio um livro.
De cantar alto no carro com janelas abertas.
De sorvete em dias gelados.
De, principalmente aos sábados, um beijo, um afago meu amor.
Urgências ou minha mente se desprende
E eu sucumbo

sexta-feira, setembro 25, 2009

Aquele Rapaz

Eu não sei. Ele tinha um jeito, assim, de lavar as mãos.
Ele esfregava suavemente uma sobre a outra, lentamente, enquanto se olhava no espelho da pia.
Não que fosse tão diferente de todo mundo que estava ali e fazia a mesma coisa
Mas havia alguma coisa nele que me chamou a atenção, eu estava na fila do banheiro e fiquei olhando aquela cena, aqueles olhos no espelho que me viram.
Talvez tenha sido isso, o olhar.
Alguma coisa naquele rosto claro, os cabelos quase loiros caídos na testa, as costas largas, meio desajeitado, lavando as mãos se olhando no espelho.
Como se fosse a única pessoa do bar, como se o mundo não existisse mais
Apenas ele.
O que será que ele pensava?
Eu podia ouvir o som abafado da musica alta e as risadas no salão.
Meus amigos me esperavam para dali irmos á outro lugar.
De repente, eu não sei, uma vontade maluca de falar com ele.
Ele fechou a torneira, secou as mãos brancas e saiu.
Pronto. Acabou.
Chegou a minha vez, depois minha hora na pia. Tentei fazer igual, olhando o espelho tentava inutilmente pegar alguma coisa dele...como se ele estivesse ali ainda.
Quase podia ouvir o som de seu coração.
Não sei se foi o jeito em que ele lavou as mãos
Ou olhar.
Sua beleza clara.
Eu não sei.
Quando eu voltei, meus amigos já tinham pago a conta, estavam de pé.
Eu estava um tanto mais sério, não o vi no salão, mas ele devia ainda estar por ali.
Tentei esboçar um sorriso, não consegui. Alguém falou alto alguma coisa engraçada, estávamos já saindo do bar quando de súbito um nó na garganta, uma vontade absurda de chorar.
Não sei se foram as mãos.
Na rua senti a brisa suave da noite de sábado.
Então entendi
Que ele era o rapaz mais triste do bar.

quarta-feira, setembro 23, 2009

Do mais, nada demais

Ando tão afastado daqui
Das palavras
Dos sentimentos
Do gosto das coisas
Assim meio perdido, vago em mim
E me descubro
A cada dia um canto novo, que eu não conhecia, um olhar diferente no espelho antes de dormir.
Uma legião aqui dentro
Desconhecidos, inabitáveis, lugares escuros
Para onde eu tenho ido, em uma viagem sem volta
Ando por aí como se existisse uma fina camada de poeira sobre meus olhos que não me deixa ver claramente.
O sol da manhã (tão raro atualmente) queima minha pele branca
E apesar da chuva, da garoa, desses dias pesados, tenho tido noites quentes
Meu corpo em brasa
Manchando os lençóis
Todo dia quando acordo é preciso trocar a roupa de cama
O leito de um doente, a cama de amantes.
Nada disso
Eu
Apenas.
Sozinho em dias longos, em noites quentes, madrugadas silenciosas
Dentro de mim.
Uma auto descoberta
Sem fim
E sigo
Como se nada acontecesse
Mas te aviso:
Estou preste a explodir a qualquer momento
Assim
Como um vulcão.
Pelas paredes encardidas do apartamento claustrofóbico escorre uma lama densa, uma mistura de cores sons e mãos que me negam o afago.

terça-feira, setembro 01, 2009

Minhas confusões mentais

As vezes pela madrugada eu tento estancar o sangue

............

Eu queria escrever sobre tudo, eu queria eternizar o momento exato das coisas, eu queria contar neste papel que dentro de mim tem um bicho, uma coisa que queima.

Eu queria contar uma história, queria falar sobre a beleza de olhar a estrada pela janela do carro, enquanto no rádio toca tua música preferida.

Queria contar a hora exata da felicidade.


Eu queria dizer que o amor te fode por dentro, mas que é uma fodida gostosa.
Que é a praga do mundo, que a gente ama porque vicia, sem saber.
Porque amar é estar vivo.

E o amor te mata aos poucos cada dia.
A gente morre. Sempre...

Poder lhe mostrar que amar é estar no escuro e a gente não quer a luz.

É cocaína, é abismo.

O amor te corrompe, mancha a pureza. Queria dizer que não, não adianta, ninguém escapa, você vai amar e aí amigo...

To aqui, querendo ser escritor.

To aqui querendo te falar que o amor é uma angústia necessária...

Mas eu não vejo mais nada, então.

Eu sucumbo...

terça-feira, agosto 11, 2009

A viagem

Não sei que horas são.
Estou dentro deste ônibus, sentado sozinho, na poltrona da janela.
Há uma escuridão. Eu não vejo nada lá fora.
Apenas uma sombra desfocada de meu rosto no vidro.
È como se eu estivesse suspenso no tempo.
Estranho, penso. Dentro dessa viagem de seis horas, quando cai a noite e eu só vejo escuridão, sinto o momento presente.
Palpável como quase nunca consigo sentir
E me sinto desconfortável com isso. Sentir assim o momento presente tão vivo. Sem celular, nem qualquer tipo de ligação com o mundo externo.
O passado ficou lá na cidade de onde o ônibus saiu.
O futuro ainda não chegou, só quando entrar na marginal fedida, lotada de luzes e sons.
É o momento presente
Eu sozinho na poltrona, penso em tudo e em nada.
Pulso.
Ouço meu coração e todos os sons do meu corpo.
Ouço o silêncio em mim.
Este momento suspenso no tempo, no espaço
Sensação de que nada mais há.
Que nada mais resta
Somente esta noite, este instante preciso
Esta estrada escura.
Como se estivesse em outro plano.
Uma pausa na sequência da vida.
Penso somente no agora
E agora sou eu, sozinho na estrada, da vida
Com a mente vazia
E uma mala pequena
Lotada de sonhos.
Então, cansado de amores, do gosto que fica depois de tudo.
Eu adormeço.
Um pouco antes do destino final.

sexta-feira, julho 31, 2009

Rua Augusta

Não existe uma rua em nenhum lugar do mundo como a rua Augusta.
Eu nem conheço o mundo todo.
Não conheço nem o país todo.
Mas posso afirmar sem medo, que não existe uma rua como a Augusta.
Todas suas cores e sons.
Os néons que iluminam os passos de quem passa apressado pela rua.
Suas moças de maquiagem pesada, busto firme, saia curta e salto alto.
Os salões de beleza que ficam abertos noite adentro.
Sua lojas, mercados e uma infinidade de butecos.
Um dos melhores cinemas da cidade está ali.
Há uma faculdade também.
Uma antiga loja de chapéu.
As baladas alternativas, de rock, eletrônica, pop.
Ali se reúne toda sorte de gente.
As garotas de cabelos coloridos e brincos no nariz.
Os meninos moderninhos de calças apertadas e blusas coloridas.
Os rapazes do rock, as meninas da moda.
Os antenados, viciados, poetas, escritores, jornalistas, atrizes, vendedores ambulantes, bêbados, modelos, secretárias, executivos, prostitutas, estudantes, patricinhas, caretas, músicos, mendigos...
Tudo junto e ao mesmo tempo.
Existe entre os freqüentadores um tipo de pacto silencioso, secreto. O que acontece na Augusta fica na Augusta.
Eu ando pela Augusta todos os dias e não consigo parar de pensar no fascínio que a rua desperta em mim.
Gosto da calçada, mesmo suja, dos butecos, das casas noturnas e da loja de discos.
Gosto da cerveja sempre gelada e da Pizza na madrugada...
A Augusta já foi música, entraram a 120 por hora
Eu entrei devagar, desapercebido pra nunca mais sair!
E como eu já disse: Não adianta, não vamos discutir.
Não há em nenhum lugar do mundo uma rua como a minha.

terça-feira, julho 21, 2009

De Novo. De novo. Novo. De.

Nem sei quantas vezes eu me reiventei.
Quantas vezes morri e nasci de novo.
Sempre os mesmo erros
Do mesmo jeito
Igual.
É impressionante o dom que eu tenho para me sabotar
Você não acreditaria.
Eu sempre dou um jeito de tirar meu carro da estrada
De afundar minha canoa
De levar minha vaca para o brejo.
Não me pergunte porque
Eu não tenho a resposta.
Não aprendi ainda a lidar comigo
A lidar com minha solidão
Um dia quem sabe, não sei
talvez eu aprenda
Assim, de repente acorde numa noite quente e decida
Decida nunca mais me cortar.

Penso, sentado neste banheiro imundo, que um dia vai parar.
Será possível então estancar todo esse sangue que escorre dos meus braços pela minha pele branca.
Um dia vai cessar
A dor.

terça-feira, julho 14, 2009

Carta.

Amigo,

Um misto de Dor e paz.
A vida doméstica anda confusa. Como cantou Calcanhoto:
"Eu perco a chave de casa, eu perco o freio, estou em milhares de cacos, estou ao meio..."
Dividido. Uma parte de mim tá cheio de fé, esperançoso, a vida é boa dona canoa.
Outra parte é só lama, sente medo e quer voltar pro ventre.
A torneira da pia quebrou. Há mais de um mês. Quebrei o vidro da porta em uma faxina desastrosa. Minhas chaves sumiram. A grana acabou e ainda não é dia 15...
Ando carente pra caralho. Achando esse papo de viver sozinho e se bastar uma bosta.
Quero um amor que seja bom pra mim. Sabe? Com direito a música brega para embalar as tardes de ausência.
Cheio de bares. Das pessoas na noite. Nas ruas.
Impressão que os dias se repetem...
E misturado a isso tudo, uma fé absurda, infantil. Uma esperança quase ilusória de uma vida boa. De um dia melhor. De estar caminhando.
De.

É amigo, o tempo corre e como vê, eu ainda confuso.
Me sinto um estrangeiro em minha própia terra, meu própio mundo.
Toda vez que falo com minha mãe no telefone a mesma ladainha "tem que tratar essa depressão meu filho, isso dá câncer".
A minha eu curo em bares, noites que duram dois dias e 15 horas de trabalho diário.

Enfim, ando irritado, cansado, com sono e sem nenhuma vontade de escrever. Achei que devia te contar isso, justificar minha ausência...

Te beijo na testa,

P.s Tenho escutado bastante coisas velhas da calcanhoto. E sempre gosto.

terça-feira, junho 23, 2009

Carta à Minha Sobrinha Ou: Um clichê.

Minha querida, minha amada.
A vida é um amontoado de clichês.
Não se iluda, não se irrite.
Sei que nem vai ler esta carta agora, vou guarda-la no cofre.
O teu cofre de quinquilharias que diz que vai abrir só quando fizeres 15 anos.
Quero te dizer que tua mãe está certa quando te diz "tenha calma".
O mundo não precisa de mais pressa, meu amor.
Você vai descobrir que não dá para ser maduro aos 16, 17, 18 nem mesmo aos 21!
Vai perceber que seus pais estavam certos (quase sempre estão)
Que o amor acaba. Que a festa acaba. Que ser adulto é um porre.
Você vai ser magoada bem mais do que gostaria.
E vai magoar bem mais do que deveria.
Vai descobrir que não sabia nada da vida, mesmo tendo certeza do contrário.
A gente sempre muda e sempre aprende algo novo.
Que se encontrar é uma tarefa árdua.
Que dói viver
Que dói amar.
Que a morte existe e é uma das coisas mais doloridas do mundo.
Saberás do que uma ausência é capaz.
Que maconha é bom, embora seja ilícita.
Ficar acordada a noite toda na balada é uma delicia
Mas a vida corre e como já disse, a festa acaba.
Vai entender perfeitamente o que Caetano Veloso quis dizer com:
"Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é".
E a gente só sabe o que a gente é, quando a gente é de fato.
Quando a gente se aceita, mesmo sabendo que carregamos um mundo horrível dentro de nós.
Você só consegue descobrir a delicia e a dor de ser você, quando se entende e admite ser falho, farrapo, nada.
É preciso se curtir. E para ter tempo de se curtir é preciso deixar a vida do outro de lado.
Espiar da janela é função dos medíocres
Ser um humano é uma coisa terrível.
E, é também a coisa mais fantástica, divina, espetacular de ser.
Minha amada tenha orgulho de sua mãe, eu nunca disse isso para ela, ela é uma mulher fantástica!
Na nossa família o poder sempre veio das mãos dessa mulheres que nos cercam.
Elas são nossa base, nosso sangue, nossa força, nosso exemplo.
Minha pequena eu te amo. E não deixe nunca de acreditar nisso.
Você é o frescor, o sol, o novo, a outra era.
Siga teu caminho lindo. Crescer não será fácil
Será a aventura mais visceral que viverá. Saiba disso
E fique atenta.
Porque o tempo vem voando, uma faca de dois gumes, destruindo e construindo tudo.

Te beijo na testa, Com amor.

terça-feira, junho 16, 2009

A vida arrebenta

Assim mesmo, sem aviso, sem tempo de segurar.
O fio frágil que sai da planta da cabeça e nos deixa suspenso nesse lugar chamado mundo, arrebenta.
Como um copo que se quebra
A vida se desfaz em cacos.
Pode acontecer a qualquer momento, em qualquer lugar com qualquer um.
Agora mesmo enquanto escrevo, alguém deve estar arrebentando.
Pode ser por causa de um telefonema.
De uma despedida
Pode ser que acabou um relacionamento
Que tenha perdido o emprego
Que tenha perdido um amigo querido.
Que a morte tenha chegado bem próxima
Pode ser por muita coisa. Pequena ou grande, ela arrebenta
Tão frágil, um sopro.
De repente tudo que você conhece como verdade, como mundo, como amor, como vida...ACABA.
E ai, o que fazer agora? Eu não sei.
Tudo que eu acreditava, o caminho onde eu estava, as minhas vontades, tudo mudou sem que eu quisesse.
Sem que eu estivesse pronto. Quem é que está?
Tenho vivido uma fase nova, estranha, um outro sabor.
O mundo a minha volta desmorona.
Os meus amigos estão tristes
Tenho chorado com eles ao telefone.
O mundo a minha volta está negro
Quem sabe não é um sinal?
Talvez, não sei.
Talvez eu tenha que parar de olhar para o meu umbigo.
A gente olha tanto para dentro que esquece que fora tem tanta gente legal, tanta gente precisando de um afago. De afeto.
E, é pra já, hoje. Agora
Porque a vida, ah a vida!
Ela arrebenta.

quinta-feira, junho 04, 2009

Eu preciso de Deus

Eu quero rezar toda noite
Que me perdoem os incrédulos
Mas eu quero ir á igreja ficar de joelhos e chorar nos pés de Deus.
Quero um anjo ao meu lado
Sentir-me abençoado cada manhã ao levantar.
Quero carregar meu menino Jesus no peito.
Quero me despir de tudo
Do meu orgulho, meu egoísmo, minha inveja, minha maldade, meu desejo.
Quero estar nu diante do Santo.
Ter o amor divino, ser embalado durante o sono...
Sentir a presença do espírito.
Encher minha sala de Paz.

Desculpe-me os autos suficientes, os donos da razão e verdade absoluta. Eu me entrego.
E declaro que menino que sou eu preciso toda noite, antes de dormir, do colo de Deus!

domingo, maio 31, 2009

Domingo.

Só porque é domingo
Só porque estou um tanto melancólico.
No trabalho... enfiado dentro desta sala...
Só por isso eu vou postar um poema que amo do E.E Cummings.

Acho lindo, Acho Clichê e ainda vou dedicar para alguém... ah vou!


Carrego o teu coração comigo

Carrego o teu coração comigo (carrego-o no meu coração)
Nunca estou sem ele (onde eu vou tu vais, querida; e o que é feito só por mim és tu que fazes, meu amor)
Eu não temo nenhum destino (tu és o meu destino, meu doce)
Eu não quero outro mundo (pela tua beleza ser o meu mundo, minha verdade)
E tu és seja o que for que a lua signifique e o que quer que o sol cante sempre és tu
Aqui está o segredo mais profundo que ninguém sabe (a raiz da raiz e o broto do broto e o céu do céu da árvore chamada vida; a qual cresce mais alto do que a alma espera ou a mente esconde)
E este é o milagre que mantém as estrelas separadas

Carrego o teu coração (carrego-o no meu coração)

sexta-feira, maio 22, 2009

Para Dri Cechetti

Sabe aquela menina da sexta série?
Aquela, que sentava lá na frente. Não na primeira fileira. Mas um pouco mais próxima da janela, na terceira mesa.
Não fazia parte da galera do fundão, nem tampouco era da turma dos chatos da primeira fila.
Aquela que te despertava curiosidade, lembra?
Ela que parecia séria, apesar da pouca idade, era de poucas palavras e só andava com as meninas na hora do intervalo.
Ela não tinha as melhores notas, mas sem dúvida, era a mais esperta.
Você olhava pra ela, sempre misteriosa. Você já sabia e pensava consigo mesmo "essa menina vai longe".
Ela carregava um mundo na mochila e a mochila nas costas, e pesava tanto as vezes.
A gente sentia naquela época que ela pulsava. Que em seus cabelos meio desajeitados, meio ondulados, desciam sensações e desejos e sonhos.
E de sonhos ela era feita.
Não que tivesse escolhido ser assim, essa menina, esse tipo de gente que não se vê por ai.

Mas fora predestinada.

Os anos passaram. A sexta série ficou lá em um passado distante e adivinhe? Ela deixou de lado a mochila mas continuou carregando o mundo nos ombros.
O seu mundo. Feito de cores e sons e sonhos.
E continua pesado. Mais que naquela época.
E a menina, como era de se esperar, sofreu. Porque assim são os predestinados sofrem um tanto mais que os outros, esses que andam por aí.
Quando você a encontrar vai acha-la meio perdida, um tanto diferente, vai achar até que ela se desviou de seu Destino.
Mas eis um segredo: O cabelo cheio de sensações continua lá, um pouco mais curto, no tamanho exato da luz.
E é preciso uma porção de paciência, de persistência para desconstruir as camadas que a envolvem.
Então aos poucos ela vai surgindo, aquela menina, cheia de ternura doce, beleza e dom.
E dá um pouco de medo porque apesar de pequena, ela é grande, expande e é preciso abrir portas e janelas e mesmo assim ela quase não cabe.
Porque ela é predestinada.
O que me deixa preocupado é que as vezes tenho a impressão que ela não sabe disso.
Então eu te peço, se a encontrar assim qualquer dia no supermercado, ou no semáforo fechado diga a ela no pé de ouvido: "Ei menina da sexta série, você me inspira".
Quem sabe se todo mundo, se mais gente disser isso a ela, ela passe a acreditar.
Então ela se lembre dela outra, na sexta série, e fique um tiquinho mais leve.

E volte a escolher os sonhos antes de dormir

Minha Crise aos 40.

"Quando eu tinha vinte e poucos anos eu vivia cada dia, cada minuto intensamente.
Porque quando eu tinha vinte e poucos anos eu achava que não podia perder tempo, que não podia parar para nada.
Eu jovem ainda achava que sabia tudo, que precisava ter tudo, eu tinha pressa, pressa de ser feliz, pressa de encontrar um amor.

Tinha uma urgência, uma necessidade de não sei bem o quê.

Com vinte e poucos anos eu vivi da pior forma e da melhor forma também, eu usei drogas, eu bebi muito, eu andava caindo por aí, rindo por aí, chorando em banheiros que eu não conhecia. Havia muito cor na minha vida. Cores fortes, havia também uma lama espessa, uma poça funda, um abismo.
Aos vinte e poucos anos minha vida era uma areia movediça.
Não sei se você vai me entender mas, eu tinha que ser bom em tudo eu tinha que ter um bom emprego, ter notas boas, comprar minha casa, ter um bom carro, falar bem , comer em bons restaurantes, ser "hype", estar na moda, ser amigo dos amigos, ter uma turma, uma tribo, um estilo, uma atitude.
Nem o telefone móvel que tocava sempre eu tinha escolhido!Tudo me era imposto.

E eu não aceitava nada, gostava daquela vida, daquele jeito desapegado das coisas, daquela casa tão anos 70, uma vida sem compromissos.
Eu enchia a boca e dizia: "eu vivo intensamente".

Daí surgiu a crise dos vinte e poucos... Curei a minha com lsd, com ecstasy, com pó, muita vodka e fumaça, música e beijo na boca.
Eu me sentia vazio e um tanto solitário, mas fazia parte.

Era assim.

A solidão é uma constante quando se tem 20 poucos anos.
Todos meus amigos sentiam o mesmo, todos eles assim meio zumbis, meio preocupados com o futuro.
Alguns eram cheio de poses, outros se faziam de fortes mas choravam sozinhos no escuro.Eu já morava sozinho um tempão uma coisa também supernatural na época.
E claro eu seria um homem bem sucedido.
Eu era formado, bem relacionado e bonito, aparência é tudo quando se tem vinte e pouco.
O engraçado é que o tempo correu tanto que eu ia deixando de ser o menino, o rapaz, o moço bonito e inteligente de 20 e poucos anos.

E durante o processo, sim porque é um processo, eu agora penso que ninguém me ouviu. Ninguém ouviu meu grito entalado, minha voz cansada, ninguém percebeu que eu precisava parar.

Afinal aos vinte e poucos anos você só é mais um.

quarta-feira, maio 20, 2009

Carta para Minha Mãe

A senhora deve estar achando estranho esta carta, eu sei.
Posso imaginar sua euforia quando o carteiro lhe entregou. Depois teu estranhamento. Por que agora? Por que assim? Neste papel amarelado?

Temos nos falado tão pouco, nossas escassas conversas no telefone são frias, exatas em sua secura.
Hoje cai uma garoa fina sobre a cidade suja.
Há tanta pressa por todos os lados, tanta vontade de chegar em casa, de tomar um chá, de encontrar o jantar na mesa. Em cada estação do metrô lotado tantas vozes esperando serem caladas por um beijo.

Sabe mãe, hoje aconteceu uma coisa estranha comigo: eu não vi as pessoas como sempre vejo. Não vi nada além, fiquei invisível dentro do vagão que cheirava suor e cigarro. Agora imagina, eu que gosto tanto de observar, descobrir cada historia perdida nos vincos dos rostos cansados, não vi nada.
Esta carta assim as pressas é para te contar sobre o homem que me tornei.
O homem que você jamais conheceu. O engraçado é que não me lembro bem de como eu era antes de.

Aquele menino que passava horas preso no quarto perdido na literatura, vivendo vidas que jamais foram as dele, se perdeu.
Fui tão triste quando jovem e tão sonhador também, algumas lembranças são como fotografias fora de foco aqui dentro.
Fragmentos e talvez, veja bem, talvez tenha sido esses fragmentos que me fizeram ser quem eu sou.

Tinha você antes com teu cabelos cacheados, "permanente", você dizia.
Tinha a beleza de te esperar sentado no portão. O teu sorriso ao me ver: o teu garotinho com roupas gastas e pé no chão. A tua força, mesmo depois de um dia de fadiga, para fazer o jantar, para se sentar no sofá em paz enfim.

Tinha tuas mãos tão calejadas pela vida e eu não entendia como uma mulher tão jovem pudesse ter as mãos daquele jeito. Nenhuma mãe na rua tinhas as mãos como a sua. O teu sorriso tão cansado era quase um grito de socorro, um pedido de ajuda que eu só entendi mais tarde.

E tinha o pai, engraçado que nesses fragmentos não há imagens dele feliz. Só há um farrapo de homem, bêbado como um anjo caído. Os tapas em você, as louças quebradas, os jantares terminados em gritos em choro.
Ele também jovem cheio de amargura, as palavras duras, o jeito sério. Eu tinha pena de nós, mas mais ainda de você.

Mãe, eu não entendia que tipo de amor era esse que te prendia no caos. Porque você não gritava com ele? Não fugia para marte ou para a lua? Não saia sem rumo para longe? Não nos tirava dali?

Depois veio a raiva , o ódio de perceber que eu nunca seria feliz aí. E havia meu segredo tão bem escondido que ia crescendo como monstro e a vontade louca de ternura e afeto.

Vontade de coisas que eu nunca seria, nunca teria. Este desejo que ardia tão fundo...E a raiva de viver tudo isso, de estar ao teu lado, de te achar covarde, de odia-lo tanto.

Eu passei noites em claro elaborando um jeito de me livrar desta história.
Primeiro quis envenená-los, depois quis morrer jovem.
E só então decidi que viria embora.
Eu estava preso entende? Eu precisava de espaço para crescer e ganhar o mundo, de provar que eu seria diferente, que minha história seria outra.

Senão eu secaria.

Eu me sentia tão velho ainda que jovem demais.Eram tanto peso nos meus ombros frágeis de menino....
Eu não queria me tornar meu pai. Não queria me tornar você, tão cansada, triste e tão sozinha....

E assim, disso eu me lembro bem, fiz minhas malas e parti.

Você chorou tanto, pediu tanto mas eu não podia assistir aquilo eu precisava voar para longe.

E dentro da minha mala além das poucas roupas e sonhos eu trouxe comigo meu amor, meu ódio, minha dor para com você.

Esta cidade é dura minha mãe e constatei isso logo de início jovem e sozinho.
Muitas vezes com fome outras com frio e tantas outras com uma porção de poesia eu pensava "eis que é esta é a grande Babilônia, a prostituta".

E foi tão difícil mãe falar com você no telefone e lhe dizer que tudo estava bem sem estar. Eu estava amadurecendo afinal? E além disso, aqui eu pude ser mais claro.
O desejo que antes era pequeno, pecaminoso, crescera tanto que escorria pelas minhas mãos.

Me queimava em noites longas.
Então amei.
Amei branco, amei fundo, amei este rapaz como jamais amei alguém. E via no fundo de seus olhos de menino que eu tinha sido salvo enfim.
Mas como é amar quando só se conhece o amor cheio de feridas? Cheio de espinhos? O amor que consome e destrói? O amor do caos? ( fiz tanta coisa feia mãe).Como é a ternura quando só se conhece a amargura?

E assim mãe eu me entreguei ao caos, desisti deste amor.

E penso e tenho tanto medo. Talvez jamais eu consiga amar de novo, não quero mais machucar ninguém. Que as feridas sejam apenas minhas.
E mais uma vez eu fugi, ele não podia mais me ter nos ombros como um fardo, desaprendi há muito tempo atrás como ser feliz.
E foram noites de porres homéricos, de desrespeito, fui tão fácil, era como se eu tivesse vendido minha alma na esquina, para o diabo.
Eu me perdi.
Noites de carreiras brancas entrando pelas narinas e o alívio imediato.
Uma personagem.
Aquele garotinho cheio de ideias, e pudores,e culpa se transformou numa personagem de David Linch.
Tanta falta de não sei o quê, uma solidão tão grande, um desespero.
E eu só queria ser salvo, ser diferente.

Hoje eu sou "alguém" nesta grande Babilônia.

Sei que você enche o peito para falar de seu filho importante, o jornalista, o filho que deu certo na capital.
Mas mãezinha foram tantos os naufrágios, tamanha merda, uma cova atrás da outra e outra e outra que eu desapareci.
Sequei na estrada da vida.

O que me falta querida mãe? Além de seu café quente? De suas mãos cansadas?

Fui julgado severamente pelos meus atos, Sou apenas o que dizem que sou.
Nada mais.

Quando terminar de ler esta carta mãezinha eu lhe peço com a fé que te resta, peça para teu Deus olhar por mim.
Para que ele não me dê as costas como eu fiz com quase tudo na vida.

Te beijo minha mãe.

P.s Se for possível peça para Deus para que ele cuide também de minhas irmãs queridas. Que ele encha meu coração de paz. Que eu possa amar meu pai assim puro. Que ELE cuide de meu rapaz perdido, que sua vida seja doce e clara.
Peça pelos meus amigos que prezo. E que ainda se der, que ele mande um anjo esta noite para me dizer dentro do meu ouvido que sim, eu ainda sou um bom menino.

Diga para ele mãezinha que eu só quero acordar em paz.

Espelhos Partidos

Onde eu estava?
Em que noite foi?
Foi no bar? Na rua?
Tava chovendo?
Sei que haviam espelhos partidos.
Cacos por todos os lados.Cortaram meus pés, meus pulsos, rasgaram meus olhos.
Tanto sangue na brancura
Tanto vermelho na minha calça branca desfiada.
Eu tento mas não consigo
Dois dias sem sair de casa, dois dias sem me levantar
Inerte na cama, janelas fechadas, dias cinzas.
Apenas pombos batendo com os bicos nas janelas sujas.
Nenhum telefonema ou convite.
Silêncio em tudo, pela casa, pela alma, no mundo.
Só ouço meus fantasmas. Minhas reclamações.
Farto de histórias inacabadas, de amores não amados.
Onde foi meu Deus???
Que eu perdi a fé? o freio? o juízo?
Lembro-me tão pouco do antes.
A cortina ainda estava aberta
Havia a platéia, os aplausos
Nada restou. Luzes apagadas. Poltronas encardidas e poeira.
Não há o carrinho de pipoca, as risadas, as taças de vinho.
Não há música. Nem dança.
Ninguém me tira para dançar neste salão.
Sentado horas a fio com uma rosa na mão sem um par.
Ao menos se tivesse um último cigarro...Onde está?
Como foi? Em que momento?
Diga-me se sabes.
Os cacos no chão
Eu deveria saber
O abismo ao contrário.
Um não cair.
Um momento suspenso. Era a vida.
Que hoje não há...

sexta-feira, maio 15, 2009

Blue

Chuva, vento gelado, nuvens escuras. Trânsito.
A cidade fica tomada por guarda chuvas. Pretos, Brancos, sombrinhas da Madonna, da Britney, grandes, médios, pequenos, floridos, básicos.
É a guerra. Gente carrancuda empurrando, batendo com o guarda chuva.
Fica difícil andar na calçada, ficar no seu espaço, seguir seu caminho.
È muito fácil ficar de mal humor.
Mas hoje é sexta feira, tá garoando, vento frio e trânsito caótico. Eu ando pela calçada lotada de toda sorte de gente e guarda-chuvas. E só há um fio frágil pronto para se arrebentar e desencadear meu mal humor.
Isso não acontece. Eu adoro manhãs assim. Adoro olhar a rua molhada, as luzes amarelas do centro, as pessoas na padaria, as bancas de jornais... Toda a imponência do Copan...
Eu passo na padoca, peço um pingado, folheio o jornal. Estou leve e tranquilo.
Não quero a energia dessa gente carrancuda, chata, pesada demais para uma manhã de sexta feira.
Continuo meu caminho rumo ao metrô lotado, não há nada de glamour nisso.
Mas eu estou leve. Apesar da falta de grana, dos problemas, da torneira que não para de vazar, da cortina que rasgou, da bermuda que manchou, do arroz que queimou.
Apesar da falta de um amor, do telefone não tocar, do abraço não chegar.
Apesar de tanto frio, tanta chuva, trânsito e manhã caótica.
De todo o caos que me cerca. Da dureza, do peso nos ombros.
Embora o frio e o tênis branco molhado, o amargo que insiste em ficar.
Eu não vou ceder. Minha vida pulsa, corre o vermelho quente nas veias. Meu sexo em brasa, em brasa meu cérebro
Estou claro.
E me lembro então, parado no meio da rua enquanto espero semáforo, uma coisa que eu já tinha esquecido.
Me lembro que acredito em Deus, que Ele deve se lembrar de mim.
Então agradeço, o semáforo abre, eu sigo em paz.
Embora toda feiúra do mundo!

segunda-feira, maio 11, 2009

Segunda Feira macabra

O dia está suspenso no espaço
Como se não tivesse acontecendo nesse plano
Tem alguma coisa muito errada e ninguém percebeu.
Essa é a terrível sensação que sinto nesse exato momento
Parece que alguém apertou o pause do meu controle remoto.
O dia está correndo em outra sintonia
Eu não estou na mesma energia
Desse dia estranho, supenso, sem verdade alguma
As coisas aqui não estão tocáveis. As pessoas não são as pessoas que eu conheço.
O dia está do avesso
Minha cabeça dói
E meus olhos lutam contra a luz.
Quero minha casa, passar correndo por tudo.
Não quero o caminho. Quero estar no meu apartamento. Quieto
Com o som da tv baixo.
Quero dormir com a tv ligada assistindo CqC.
Acordar amanhã de manhã abrir a janela
E perceber que o mundo continua no lugar
Que o dia estranho acabou e eu voltei para o plano real.
Que tudo foi um sonho.
Ao contrário

sexta-feira, maio 08, 2009

Oração Ou Delirio

É tempo de silêncio
De fechar os olhos.
De agradecer.
É chegado o tempo de calma
Depois da tempestade
Da enchente
Do vulcão.
É tempo de cuidar da alma
De elevar o espírito
De deitar
Cultivar as plantas
E lançar sementes
Arar a terra.
Tempo de beijar a testa
A palma da mão.
De reconhecer
Falar mais baixo
Sorrir sem dor
De amanhecer.
É chegada a hora do chá no fim do dia.
Da rede na varanda. De margaridas no jardim
Da fumaça do café. Do queijo derretido
É tempo de musica suave
De dormir de tarde.
Acontecer.
É tempo de ternura.
De afago
Da hora exata do amor.
É meu tempo.
Ele dura pouco, é o agora. Nesse instante
Um pouco antes de morrer.

quarta-feira, maio 06, 2009

Sampa, meu amor

Manhã quente de verão, calor abafado típico da cidade de São Paulo.
Avenida do Estado, nove horas da manhã. E
stou parado em frente ao Mercado Municipal, precisamente sentado em um muro baixo de cimento, minhas narinas ardem com o cheiro forte de urina.
Leio um livro de Caio Fernando Abreu, vez ou outra levanto os olhos, contemplo o trânsito sempre infernal na avenida.
Que me desculpem os moradores, os urbanistas & ativistas em geral, uma das mais feias da cidade.
Olho do outro lado e avisto um prédio em ruínasm um velho conhecido dos moradores da capital o “treme-treme”, histórias bizarras nasceram ali.
Penso: “Como pode?”mais para passar o tempo do que qualquer outra coisa, tanto concreto sujo, tanta feiúra concreta.
Um contraste,vejo flores em uma das janelas sujas. Violetas?
É a leveza que insiste em nascer nos lugares mais duros.
Volto a ler o livro, queria um cigarro, uma maldita tragada apenas.
Suspiro como quem vai iniciar uma meditação. Sinto um pouco de raiva de mim, só um pouco, porque nesta manhã estou blue.
Raiva por ter perdido a hora e ter que esperar a carona ali naquele local.
Esperar é algo que realmente me frustra, ô coisa mais chata!
Perco-me mais uma vez em Caio Fernando Abreu, uma olhadela rápida no cruzamento logo ali na frente, vejo o carro que vêm me salvar e me levar pro meu destino.
Fecho o livro guardo na mochila e.
E nesse instante de fechar o livro e guardar na mochila, ouço um barulho surdo quase abafado, um baque.
Barulho de brecada e uns gritos, pareceu-me ser de mulher.
Um atropelamento no cruzamento da avenida do estado.
Paro um instante antes de entrar no carro, penso em ir ver o atropelado.
Desisto.
É uma manhã quente de verão o clima abafado típico de Sampa, existe leveza nas coisas duras.
Estamos no meio da semana e muita coisa ainda vai rolar, baby.

terça-feira, maio 05, 2009

Carta para você que amo

As vezes fico horas sentado aqui olhando pra tela, sem ter o que dizer.
Parece que tudo em mim se esgotou.
O que posso contar? Quais as novidades? Meu fim de semana foi igual a tantos outros, bem menos diferente do que planejei.
Sei que você gosta quando lhe escrevo, mesmo para contar nada.
Mas eu sinto que essa relação é unilateral.
Você quase não me escreve. Não me telefona e quando nos econtramos, o que é raro, você parece sempre estar suspenso.
Me pergunto se você já sabe. Se alguma vez meus olhos denunciaram o que minha boca esconde.
Se. Se. Se.
E hoje, por não ter o que dizer eu decidi te contar
Eu te amo.
Amo o teu jeito despretensioso, o teu cabelo dourado. Amo teu jeito de andar e como suas camisetas lhe caem bem. Amo tua mão quando você fala e teu gosto musical.
Amo como você enrola o baseado e como fica depois dele.
Sua risada atrasada. Teu jeito de prestar atenção no que digo.
O clima do teu apartamento que denuncia o tipo de pessoa que você é.
Essa carta é isso. Só isso. Faça o que quiser com ela. Espero que você entenda.
Passei os dias pensando nisso, quando eu me dei conta, que sei que você gosta de café puro, expresso. Lembrar de você em um dia qualquer na hora banal do cafezinho me fez perceber.
Que esse amor não cabe mais em mim.
Espero tua resposta, mande um sinal.
Fique bem. te beijo na testa

Com amor,
Ed.

terça-feira, abril 28, 2009

Carta

Amigo,

O mundo é pesado e cruel e quase sempre falta-nos ombros para carrega-lo.
Quem dera se alguém tivesse nos avisado quando ainda erámos jovens demais, tivessem nos dito, não se iluda: viver dói.
Essa não é uma carta pessimista, pelo contrário, quero lhe falar dessa dor. Essa dor que é uma dádiva, caro amigo.
E se lhe escrevo é porque sente exato como eu, sei que sentes. Viver é dolorido e lindo.
Brutal e as vezes é preciso fechar os olhos para não cegar.
Dói acordar todo dia e querer tudo diferente, dói amar sem ser correspondido, dói o sexo sem amor, sem compromisso. Dói o beijo na madrugada, o cigarro antes do amanhecer.
Doloridas são as noites regadas à drogas e alcool. Doloridos os dias no parque. Na feira.
Dói a sexta amarga, fim do dia, trânsito infernal.
O telefonema tardio, o almoço com amigos no fim de semana. o Beijo na testa.
Tudo, qualquer movimento, por menor que seja, me dói.
Me queima, arde no peito. E isso me faz bem, pois assim cheio de dor e beleza me sinto vivo.
Como uma agua-viva num oceano escuro.
Dói escrever. Dói o silêncio. E ao doer eu vibro, algo em mim se desprende
E por um instante entre as labaredas que ardem em meu peito eu abro os olhos, a luz quase me cega, minhas pernas tremem, sinto -me fraco. E como num último suspiro, em um orgasmo, eu penso, enquanto olho para minhas mãos pequeninas e flácidas. Eu penso assim: Sou feliz!

sexta-feira, abril 24, 2009

Mudanças

Eu mudei.
não de cidade, nem de país. Muito menos de apartamento.
Não fui embora como o prometido.
Mas eu mudei, de emprego e corte de cabelo.
Meu peso mudou um pouco também.
Mudei a disposição dos móveis na sala.
A estante de livros de lugar.

Mudei o shampoo e o sabonete. A margarina também mudou.
O lugar de comprar pão e pedir pizza.
Eu mudei.
Mas ainda sou eu mesmo.
Mudei a hora de levantar e a hora de dormir.
Aqui bem dentro, no lado vermelho vivo do peito, tudo mudou.

Parece, tenho a impressão, que a vida vai voltando pro lugar, que o mundo está voltando pro eixo. Que meu desiquilibrio chega ao fim. Parece...

Acho que isso é a tal crise dos 30

quinta-feira, março 05, 2009

Queda

Estou debruçado na janela e penso.
Penso lentamente debruçado na janela no décimo andar.
Que seria bom jogar uma vaca daqui. Como já disse a letra da música.
Acendo um cigarro, me debruço um pouco mais para olhar uma mulher que atravessa a rua.
Seria bom se ela fosse atropelada, se houvesse um barulho, se alguém chorasse, se ela morresse ali na rua dez andares abaixo.
Seria bom que alguma coisa acontecesse no mundo externo
Que algo pudesse tirar de mim este peso na nuca.
Esta coisa amarga na garganta.
Que o mundo lá fora se movesse.
E que por algum tempo estar debruçado na janela do décimo andar não me causasse tanta dor.
Às vezes, em noites como hoje tenho vontade de gritar, esfolar a cara de alguém.
Tenho vontade de chorar.
Vontade de vomitar.
Seria bom sentir uma vertigem caminhar pelo apartamento, cambalear no corredor até chegar no vaso sanitário.
Debruçar-me, abraçá-lo como se fosse um amante.
E depois abrir a boca assim bem aberta e deixar que saísse de mim, esta serpente, negra, pegajosa.
Esta serpente que me corrói por dentro me lança pra fora do mundo.
Seria bom vomitar.
Algo no mundo externo. Um incêndio. Um tiro. Um seqüestro relâmpago.
Se ao menos eu tivesse um binóculo...
Algo que me desprenda
Faça-me esquecer de mim por um segundo.
Esquecer da serpente
Do nó na garganta
Do amargo no peito.
Algo que aconteça lá fora neste exato segundo e me impeça de cair feito uma boneca de pano.

terça-feira, fevereiro 10, 2009

Carta Para Além do Ponto.

Amigo,
Deve estar se perguntando porque sumi. Porque fui embora sem me despedir.
Se não fosse assim eu não conseguiria. Cheguei ao meu limite.
O abismo enfim me cobriu. Tanta escuridão que foi impossível achar o interruptor.
Há tanta dor que é quase impossível respirar.
Dormir já não posso. Cantar não dá mais.
E assim coberto de escuridão procurei uma roupa branca bem leve, uma sandalia de couro, enfiei tudo em uma mochila e sai daí.
Estou aqui no lugar que um dia sai correndo com uma mochila pesada de sonhos.
O clima é quente, quase infernal, há tanto silêncio e calma que me sinto deslocado.
Há uma paz, uma calmaria no ar. Tudo parece ter parado no tempo, é como se nada tivesse mudado. Meu quarto de infância continua intacto do jeito que sempre foi.
Não sei se vou voltar ou se ficarei aqui.
Minha mente está vazia agora e estou gostando assim.
É preciso colocar tudo no lugar, arrumar gavetas, caixas e mente.
Lavar o corpo a alma o coração.
Assim que tudo estiver mais claro em mim eu te ligo.
Reze bastante amigo.
Cuide das plantas
Vá ao cinema.
Dê aquela caminhada noturna na paulista.
E sempre pense com muita força e energia boa em mim.
Penso em você sempre.
Estou renascendo, quem sabe mais forte?
um beijo grande

Seu, sempre
Ed

segunda-feira, fevereiro 02, 2009

Era isso que eu queria ter te dito ontem

O mais de louco de tudo é que as noites em que estou mais angustiado eu não paro de me olhar no espelho
Gosto de me olhar quando o abismo cobre tudo.
Noites quentes e escuridão.
É quando eu me acho mais bonito

terça-feira, janeiro 20, 2009

carta

Amigo querido:

Aqui anda tudo tão distante...lembra de mim? hoje li tuas cartas e que saudade que deu.
Do nosso tempo. Nossos sonhos! De suas incertezas e das minhas... passei a tarde relendo as cartas escritas á mão. Èramos tão diferentes do que somos agora.
Quantos anos? dez? 100? mil anos?
Para onde fomos amigo?
O que somos?
Nossos sonhos, nossas músicas, nosso medos infantis? as descobertas? pra que serviu, me diz?
Tenho medo do depois agora, já não tenho aquela força, aquele desejo de ser...
Tudo que eu quero agora é paz, uma cama feita, um abraço na noite de chuva...
Ah amigo! o que aconteceu entre a gente?

Não paro de pensar na resposta escrita por Miguel Falabella em "A Partilha"
Mais ou menos assim:
"Pára, não aconteceu nada, a gente ta aí remando contra a maré, lutando para não se afogar"!

terça-feira, janeiro 13, 2009

Caio F.

As vezes sinto uma vontade louca de vomitar isso.
Isso que não sei o nome. Que fica preso na garganta.
As vezes pareço não fazer parte da realidade que me cerca.
E é preciso que eu me esforçe e tente muito achar que tomar café depois do almoço é normal.
As vezes não entendo esse negócio que é viver.
E as vezes eu não sei nem como escrever....
Por isso recorro a Caio f. que parece ter escrito tudo que ja foi dito:

"Fiquei tão só, aos poucos. Fui afastando essas gentes assim menores, e não ficaram muitas outras. Às vezes, nos fins de semana principalmente, tiro o fone do gancho e escuto, para ver se não foi cortado. Não foi."

sexta-feira, janeiro 09, 2009

2009. Mais Do Mesmo

Voltando aos poucos.
E claro, todo início do ano a mesma coisa.
Desejos de mudanças :mudar os móveis, de casa, de cidade, de país.
Promessas. Promessas. Promessas.
Esse ano vou parar de beber por um tempo.
Ter uma vida mais regrada.
Frequentar menos inferninhos
Menos butecos
Ir mais ao cinema, teatro e parques.
Correr para academia. Cuidar da saúde. Da mente. Do corpo.
Escrever mais e sempre, qualquer coisa. Só para não atrofiar.
Acordar mais cedo, andar de bicicleta.
Controlar a ansiedade, viver bem com a solidão.
Me queixar menos. Deixar de esperar.
Deixar de querer outra coisa, além.
Vomitar de vez essa bola de angústia e caos presa na garganta.
Cultivar amigos. Comprar mais plantas.
Cuidar de alguém. Da espiritualidade.
Pagar as contas em dia.
Comprar mais filmes e livros.
Voltar a estudar
Estar mais junto dos meus pais. Das minhas raízes.
Abandonar o lado junkie anos 90.
Levar a vida com menos intensidade.
Pegar a curva e sair da estrada que leva ao poço.
Ao abismo tão amado.
Menos loucura. Mais sanidade. Queimar menos.
Arder menos.
Voltar á terapia.
Limpar a alma. O sangue. O coração.
Enfim, renascer. Um pouco mais normal.
É o inicio de um ciclo. 30 anos. Novo ano.
Será que vai?