"Quando eu tinha vinte e poucos anos eu vivia cada dia, cada minuto intensamente.
Porque quando eu tinha vinte e poucos anos eu achava que não podia perder tempo, que não podia parar para nada.
Eu jovem ainda achava que sabia tudo, que precisava ter tudo, eu tinha pressa, pressa de ser feliz, pressa de encontrar um amor.
Tinha uma urgência, uma necessidade de não sei bem o quê.
Com vinte e poucos anos eu vivi da pior forma e da melhor forma também, eu usei drogas, eu bebi muito, eu andava caindo por aí, rindo por aí, chorando em banheiros que eu não conhecia. Havia muito cor na minha vida. Cores fortes, havia também uma lama espessa, uma poça funda, um abismo.
Aos vinte e poucos anos minha vida era uma areia movediça.
Não sei se você vai me entender mas, eu tinha que ser bom em tudo eu tinha que ter um bom emprego, ter notas boas, comprar minha casa, ter um bom carro, falar bem , comer em bons restaurantes, ser "hype", estar na moda, ser amigo dos amigos, ter uma turma, uma tribo, um estilo, uma atitude.
Nem o telefone móvel que tocava sempre eu tinha escolhido!Tudo me era imposto.
E eu não aceitava nada, gostava daquela vida, daquele jeito desapegado das coisas, daquela casa tão anos 70, uma vida sem compromissos.
Eu enchia a boca e dizia: "eu vivo intensamente".
Daí surgiu a crise dos vinte e poucos... Curei a minha com lsd, com ecstasy, com pó, muita vodka e fumaça, música e beijo na boca.
Eu me sentia vazio e um tanto solitário, mas fazia parte.
Era assim.
A solidão é uma constante quando se tem 20 poucos anos.
Todos meus amigos sentiam o mesmo, todos eles assim meio zumbis, meio preocupados com o futuro.
Alguns eram cheio de poses, outros se faziam de fortes mas choravam sozinhos no escuro.Eu já morava sozinho um tempão uma coisa também supernatural na época.
E claro eu seria um homem bem sucedido.
Eu era formado, bem relacionado e bonito, aparência é tudo quando se tem vinte e pouco.
O engraçado é que o tempo correu tanto que eu ia deixando de ser o menino, o rapaz, o moço bonito e inteligente de 20 e poucos anos.
E durante o processo, sim porque é um processo, eu agora penso que ninguém me ouviu. Ninguém ouviu meu grito entalado, minha voz cansada, ninguém percebeu que eu precisava parar.
Afinal aos vinte e poucos anos você só é mais um.
Nenhum comentário:
Postar um comentário