terça-feira, abril 28, 2009

Carta

Amigo,

O mundo é pesado e cruel e quase sempre falta-nos ombros para carrega-lo.
Quem dera se alguém tivesse nos avisado quando ainda erámos jovens demais, tivessem nos dito, não se iluda: viver dói.
Essa não é uma carta pessimista, pelo contrário, quero lhe falar dessa dor. Essa dor que é uma dádiva, caro amigo.
E se lhe escrevo é porque sente exato como eu, sei que sentes. Viver é dolorido e lindo.
Brutal e as vezes é preciso fechar os olhos para não cegar.
Dói acordar todo dia e querer tudo diferente, dói amar sem ser correspondido, dói o sexo sem amor, sem compromisso. Dói o beijo na madrugada, o cigarro antes do amanhecer.
Doloridas são as noites regadas à drogas e alcool. Doloridos os dias no parque. Na feira.
Dói a sexta amarga, fim do dia, trânsito infernal.
O telefonema tardio, o almoço com amigos no fim de semana. o Beijo na testa.
Tudo, qualquer movimento, por menor que seja, me dói.
Me queima, arde no peito. E isso me faz bem, pois assim cheio de dor e beleza me sinto vivo.
Como uma agua-viva num oceano escuro.
Dói escrever. Dói o silêncio. E ao doer eu vibro, algo em mim se desprende
E por um instante entre as labaredas que ardem em meu peito eu abro os olhos, a luz quase me cega, minhas pernas tremem, sinto -me fraco. E como num último suspiro, em um orgasmo, eu penso, enquanto olho para minhas mãos pequeninas e flácidas. Eu penso assim: Sou feliz!

sexta-feira, abril 24, 2009

Mudanças

Eu mudei.
não de cidade, nem de país. Muito menos de apartamento.
Não fui embora como o prometido.
Mas eu mudei, de emprego e corte de cabelo.
Meu peso mudou um pouco também.
Mudei a disposição dos móveis na sala.
A estante de livros de lugar.

Mudei o shampoo e o sabonete. A margarina também mudou.
O lugar de comprar pão e pedir pizza.
Eu mudei.
Mas ainda sou eu mesmo.
Mudei a hora de levantar e a hora de dormir.
Aqui bem dentro, no lado vermelho vivo do peito, tudo mudou.

Parece, tenho a impressão, que a vida vai voltando pro lugar, que o mundo está voltando pro eixo. Que meu desiquilibrio chega ao fim. Parece...

Acho que isso é a tal crise dos 30