sexta-feira, julho 31, 2009

Rua Augusta

Não existe uma rua em nenhum lugar do mundo como a rua Augusta.
Eu nem conheço o mundo todo.
Não conheço nem o país todo.
Mas posso afirmar sem medo, que não existe uma rua como a Augusta.
Todas suas cores e sons.
Os néons que iluminam os passos de quem passa apressado pela rua.
Suas moças de maquiagem pesada, busto firme, saia curta e salto alto.
Os salões de beleza que ficam abertos noite adentro.
Sua lojas, mercados e uma infinidade de butecos.
Um dos melhores cinemas da cidade está ali.
Há uma faculdade também.
Uma antiga loja de chapéu.
As baladas alternativas, de rock, eletrônica, pop.
Ali se reúne toda sorte de gente.
As garotas de cabelos coloridos e brincos no nariz.
Os meninos moderninhos de calças apertadas e blusas coloridas.
Os rapazes do rock, as meninas da moda.
Os antenados, viciados, poetas, escritores, jornalistas, atrizes, vendedores ambulantes, bêbados, modelos, secretárias, executivos, prostitutas, estudantes, patricinhas, caretas, músicos, mendigos...
Tudo junto e ao mesmo tempo.
Existe entre os freqüentadores um tipo de pacto silencioso, secreto. O que acontece na Augusta fica na Augusta.
Eu ando pela Augusta todos os dias e não consigo parar de pensar no fascínio que a rua desperta em mim.
Gosto da calçada, mesmo suja, dos butecos, das casas noturnas e da loja de discos.
Gosto da cerveja sempre gelada e da Pizza na madrugada...
A Augusta já foi música, entraram a 120 por hora
Eu entrei devagar, desapercebido pra nunca mais sair!
E como eu já disse: Não adianta, não vamos discutir.
Não há em nenhum lugar do mundo uma rua como a minha.

terça-feira, julho 21, 2009

De Novo. De novo. Novo. De.

Nem sei quantas vezes eu me reiventei.
Quantas vezes morri e nasci de novo.
Sempre os mesmo erros
Do mesmo jeito
Igual.
É impressionante o dom que eu tenho para me sabotar
Você não acreditaria.
Eu sempre dou um jeito de tirar meu carro da estrada
De afundar minha canoa
De levar minha vaca para o brejo.
Não me pergunte porque
Eu não tenho a resposta.
Não aprendi ainda a lidar comigo
A lidar com minha solidão
Um dia quem sabe, não sei
talvez eu aprenda
Assim, de repente acorde numa noite quente e decida
Decida nunca mais me cortar.

Penso, sentado neste banheiro imundo, que um dia vai parar.
Será possível então estancar todo esse sangue que escorre dos meus braços pela minha pele branca.
Um dia vai cessar
A dor.

terça-feira, julho 14, 2009

Carta.

Amigo,

Um misto de Dor e paz.
A vida doméstica anda confusa. Como cantou Calcanhoto:
"Eu perco a chave de casa, eu perco o freio, estou em milhares de cacos, estou ao meio..."
Dividido. Uma parte de mim tá cheio de fé, esperançoso, a vida é boa dona canoa.
Outra parte é só lama, sente medo e quer voltar pro ventre.
A torneira da pia quebrou. Há mais de um mês. Quebrei o vidro da porta em uma faxina desastrosa. Minhas chaves sumiram. A grana acabou e ainda não é dia 15...
Ando carente pra caralho. Achando esse papo de viver sozinho e se bastar uma bosta.
Quero um amor que seja bom pra mim. Sabe? Com direito a música brega para embalar as tardes de ausência.
Cheio de bares. Das pessoas na noite. Nas ruas.
Impressão que os dias se repetem...
E misturado a isso tudo, uma fé absurda, infantil. Uma esperança quase ilusória de uma vida boa. De um dia melhor. De estar caminhando.
De.

É amigo, o tempo corre e como vê, eu ainda confuso.
Me sinto um estrangeiro em minha própia terra, meu própio mundo.
Toda vez que falo com minha mãe no telefone a mesma ladainha "tem que tratar essa depressão meu filho, isso dá câncer".
A minha eu curo em bares, noites que duram dois dias e 15 horas de trabalho diário.

Enfim, ando irritado, cansado, com sono e sem nenhuma vontade de escrever. Achei que devia te contar isso, justificar minha ausência...

Te beijo na testa,

P.s Tenho escutado bastante coisas velhas da calcanhoto. E sempre gosto.