sábado, novembro 22, 2008

abandono

Tudo, deixei a vida de lado
Não reconheço esse cara
Essa cara
Esse jeito de ser.
Esse jeito de falar
De sentar
De sorrir sem querer
Esse jeito que completa as frases
Esse modo de se ausentar
Esse medo
O menino que fui.
O homem que sou.
Não reconheço esse jeito de andar
De levar a vida por ai na esquina
De escrever.
Esse cara que me toma em noites longas
Na chuva
Quando abro o guarda chuva
Quando fumo erva
Quando inalo profundo a carreira branca
Quando danço
E vou sem fim
Sem hora
E quando o tempo não para
Quando peço perdão e volto
E quando volto de novo
Pra mesma casa
Não reconheço
Cansei de não saber quem sou
Então
Assim, hoje, nessa noite de chuva eu me abandono.

quarta-feira, outubro 29, 2008

Qualquer Bobagem

Tenho um quê de loucura
Ando a beira do abismo
e é lindo toda essa imensidão aos meus pés
Fico fascinado pela possibilidade de cair.
Assim desapegado de tudo.
Cair com vento na cara
O abismo me atrai
o que posso fazer?
Nada, além de me segurar nos poucos galhos que restam
na pouca sanidade que fica
Restou tão pouco de mim
Depois de tantas camas, tantos beijos...
Em cada esquina dessa cidade há um pedacinho do que fui
Em cada bar
Em cada gole
Em cada carreira fina e branca
Na tua risada
Há um pouco de mim
o resto segue, a beira do abismo
Lutando para não voar
querendo Não se jogar.
O abismo tão lindo em toda sua imensidão
me atrai
tentando não dormir nunca mais
é um sonho ao contrario

terça-feira, outubro 21, 2008

sabotagem

Me deseje sorte.
Me de um beijo
Um acalento.
me ligue nem que for as três da manhã
Diga que está tudo bem
Que me perdoa
Olhe para dentro de mim
me segure nos braços
Me beije devagar e macio
Diga que a chuva passou
Que amanheceu
que está tudo bem
Tudo bem.

depressa... eu não posso mais me sabotar.
O barco afundou e botes não há
depressa
antes que eu desapareça no abismo azul sem fim.
Assim.

segunda-feira, agosto 25, 2008

Vida

A minha vida escorre.
Pelos dedos.
Suor
Nas lágrimas
Desce seca pela garganta.
Sai como lama espessa pelos pés
Ela corre
Contra mim
Vibra, vibra tanto que nem cabe
Minha vida escorre
Pelas paredes, debaixo do sofá.
Na saliva da boca gasta
No fôlego que me falta
Vai a vida
Rápida demais
No trem que eu nem quis entrar.
Vai sem rumo vai sem freio
Ela escorre.
Minha vida.
Corre
Sem querer parar.

terça-feira, julho 29, 2008

Fragmento

- me queres?
- não sei. te amo, mas não consigo
- como pode ser isso?
- te amo tanto que não posso estar junto, não posso sangrar tanto assim. não posso ter tanta necessidade de ti. Isso me mata. Tenho vontade de te engolir.
- você é engraçado.
- casa comigo?
- o que?
- casa comigo?
- olha, olha o filme vai começar...

terça-feira, julho 22, 2008

Nada. Mais do mesmo

Voltei.
Não sei até quando.
Sei que estou no mesmo lugar mas não sou mais o de antes.
Embora ainda seja o mesmo.
Alguma coisa se perdeu no meio disso tudo
Eu encontrei alguma coisa
Aprendi.
Que bobagem, não aprendi nada

dois meses de reclusão. para que?

Descobrir que ainda tem prédios que não usam gás encanado!

domingo, junho 15, 2008

Querido Diario

Chove
Ja é madrugada de segunda-feira. quase uma da manhã. Estou acordado ainda.
Tenho medo de dormir
Do dia de amanhã e depois de amanhã.
Madrugada e eu sozinho...
Ansioso demais para dormir
Sozinho demais
Perdido demais
Eu nem sei onde eu queria estar, com quem eu queria estar
Só não queria estar aqui.
Sentado, imóvel. Olhando a tela do computador velho.
Ah, se eu tivesse ao menos um sapato vermelho como daquele conto de caio fernando abreu.
Se ao menos eu tivesse tomado daime, fumado maconha, deslizado uma carreira
Mas Não. To limpo. Sóbrio demais para me olhar no espelho.
Você nunca se sentiu assim? Esse medo de dormir, essa ansiedade sabe-se lá do que!
Esse bicho que não te deixa em paz que vai te consumido, que vai te dizendo que você está só.
O segredo é não alimentar. Tarde demais o meu tá crescido.
Imóvel assim há quarenta minutos.
Ninguem me espera. Em lugar nenhum.
Ninguem. Tenho vontade de gritar, de fugir, de morrer, de sair.
Não faço nada.
Imóvel
Se ao menos eu gritasse tão alto e sem fim e acordasse todos os vizinho, poderia causar um reboliço, inventar uma historia mirabolante
Só para não me sentir tão solitario

terça-feira, maio 20, 2008

Primeira Pagina

Eu precisei morrer para escrever um livro.

E o dia da minha morte foi bem diferente do que eu tinha imaginado, não foi um funeral regado a vinho tinto seco. Não estava garoando e as pessoas não usavam capas de chuva.
O meu corpo ficou um dia numa gaveta de um hospital, e mais uma manhã sendo transportado para minha cidade natal.
E se havia uma coisa que eu realmente não queria era isso, voltar para aquela cidade.
Nem mesmo morto.
No dia da minha morte a cidade teve um dia de congestionamento recorde, trezentos quilômetros de lentidão e as pessoas estavam irritadas e apressadas demais para notar que alguém estava se enforcando em um ponto qualquer até mesmo meus melhores amigos.
E apesar de estarmos no meio do mês de maio fazia um calor infernal e os legistas descobririam mais tarde que haviam milhares de picadas de pernilongos espalhadas pelo meu corpo da noite mal dormida, anterior ao meu suícidio.
Se o momento exato da minha morte não fora nada glamuroso e muito menos romântico, o meu funeral foi um fiasco total.
Fazia calor naquela cidade, havia sim a tia gorda que não parava de tossir e na sala ao lado velavam o corpo de um figurão político que tinha morrido de infarte fuminante aos 45 anos de idade, uma grande perda para a cidadezinha.
Eu virei estatística, mais um número, fui citado no rodapé de uma noticia do jornal local. Nada demais.
No dia seguinte, como pude constatar, tudo voltaria normal e com o passar da semana as pessoas logo iriam se esquecendo e tudo continuava como antes.
Vez ou outra eu era lembrando por algum amigo geralmente bêbado e num rompante de melancolia.
Aliás, nem todos os amigos compareceram ao velório, por ser um cidade distante e terem compromisssos profissionais a cumprir aqui na capital.
Mas os mais importantes estavam lá isso eu não posso negar.
Tudo foi lento e pesado demais, as pessoas falavam baixo, algumas se lamentavam por não terem percebido "os sinais".
Näo tocaram minhas músicas prediletas e nem escreveram uma frase bonita na minha lápide.
Havia muitas moscas e vez ou outra alguëm chorava alto demais.
Ninguém respeitou minha vontade final, ninguém fez nada daquilo que eu tinha pedido.
A não ser uma pessoa que pareceu sozinha, depois do enterro quando todas tinham ido embora, tirou os sapatos, vestia uma calça branca, depositou uma margarida sobre meu túmulo e tomou uma taça de vinho. Não chorou. Estava serena e havia nele uma calma e paz absolutas.
Mas sobre esta pessoa eu falo mais tarde
Talvez no final dessa história você entenda o porque aos 29 anos de idade eu resolvi dar cabo da minha vida.

Ou não.

quarta-feira, maio 14, 2008

Sindrome de Jonas

Eu estava debruçado na ponte.
Olhando o rio fétido às sete horas da noite na cidade caótica.
126 quilômetros de congestionamento na marginal tiete.
Acendi um cigarro.
As sete da noite olhando o transito infernal de cima da ponte.
E não pensava em nada.
Então, assim de repente ele apareceu o monstro gigante, de chifres e calda, dois olhos vermelhos nítidos.
Era quase um dragão com o coração exposto do lado de fora
Prendi minha respiração e sem pensar em nada ele me engoliu.Às sete horas da noite, um trânsito caótico e tanta gente com pressa.

terça-feira, abril 29, 2008

Cortado

Sinto a vida escorrendo entre meus dedos enquanto me olho no espelho trincado do banheiro.
Cortaram-me o álcool o pó a erva.
Entupiram-me de remédios controlados
Terapia, Ioga, Análise
Comida saudável
Cortaram-me a gordura
As noitadas
Os butecos
A festa acabou
Todo mundo saiu e fiquei sozinho no escuro.
Apenas taças vazias e baratas.
Cortaram-me o cigarro
A alegria
À vontade de me arrumar
Cortaram-me o ácido deixando pra trás o gosto amargo na boca do estômago.
Cortaram a energia, o gás o aquecedor
Meu cabelo, as barras da minha calça
As unhas.
Os amigos boêmios, a gasolina a mesada o salário
O aluguel e o mercado
Cortaram tudo
Antes que eu cortasse meus pulsos!

quinta-feira, abril 10, 2008

Ed. Ou: Ele me conhece

De uma sensibilidade sem norte, nem Sirius, sem limitação de limites, sem fronteiras, sem cálculos variáveis porque toda página vai sendo preenchida com o descuido de uma gramática nada normativa. Ele vira para mais outra folha em branco e não quer rascunho nenhum, não tem cuidado nem com os sujeitos e peca nos adjetivos descolocados. Vai caminhando pela rua, atravessa, atende o celular, espreita outra pessoa do outro lado da rua onde ele estava. Enxerga meio mal quem está do lado e jura que sabe mais do mundo que muita gente: está perdido como a grande maioria.
Enquanto puxa um cigarro amassado do bolso e faz uma piada e ri alto, pede um abraço com a cara de menino que só vai perder quando se encontrar novamente no espelho, quando a balada acabar, quando o banho estiver muito frio e a cama sem forro e a poeira criando um mundo no canto da parede. Ele cisma, teima e finge que não entendeu ainda qual era o final da piada: que adianta se ele ri mesmo assim?
Tem um toque firme quando é chamado à seriedade do toque. Ama e não saber por que, gosta dos outros e não finge por que, quer uma passagem carimbada só de ida para bem longe do planeta, inventando outro planeta e, no meio do caminho encontrou outro cigarro amassado no bolso, outro sorriso na carteira cheia de bilhete em guardanapo esquecidos, e resolve que melhor é ficar nesse mesmo, que ele ganhou a preço alto, cicatrizes fundas, escolhas desencontradas e o caminho vai se formando e deformando e transformando como o suco de limão com cerveja, como o beijo esquecido dentro do livro, como o filme de amor que ele esqueceu de assistir.

Por: Manoel Arantes

quarta-feira, abril 02, 2008

caixas

O mundo é pesado e cruel.
Não, não é isso.
É preciso voltar a ser barro
Se perder
É preciso perder a memória, a chave de casa, o rg.
É preciso esquecer quem eu fui.
Voltar
Para dentro do poço infinito que se tornou meu coração.
Olhar para dentro sem piscar, segurar a respiração.
Fazer com que viver deixe de ser tão dolorido.
O mundo todo dói em mim
E eu só penso em parar.
Hoje na rua, depois de mais uma sessão de análise eu caminhava sem olhar para lugar nenhum.
O som no fone de ouvido quase estourava meus tímpanos e eu não ouvia nada além.
Apenas os beatles gritando “strawberry fields forever”.
E a rua toda me pareceu irreal, eu me sentia um personagem desfocado pisando no chão macio.
Pensava no quarto apertado em que eu me transformei.
No trabalho que daria tirar caixa por caixa todas elas, empoeiradas, cheias de teias de aranhas e com segredos e dores obscuras.
Tirar uma por uma
Em passo de tartaruga, olhar cada foto, cada carta, cada telefonema perdido, cada guardanapo guardado com um pouco de boemia e poema.
Eu só pensava em voltar o mais rápido para dentro de mim.
Voltar a ser barro e renascer novo.
É preciso cuidar das plantas do jardim, dos móveis da casa, mandar a cortina para lavanderia.
É preciso mais sol na sala, sobre os livros.
E o mundo a doer nas minhas costas.
É preciso um pouco mais de calma.
E uma dose suave de veneno.

terça-feira, março 25, 2008

Lembranças de Um Passado Recente

Ontem a noite tava linda
Um domingo quente, tanto movimento na rua
Nem parecia domingo
Nem parecia São Paulo
Estávamos parados em um cruzamento perto do parque Ibirapuera
A cidade tão iluminada.
As pessoas estavam bonitas
E eu não sei, parecia estar fora daquele cenário todo
Eu parecia não estar ali.
Estávamos parados no cruzamento, trânsito!
Dez horas de uma noite linda
E pensava que eu não estava ali.
Quando alguém disse uma coisa engraçada
E eu ri muito
Daquele jeito de rir tão peculiar, minha cabeça pende, o som some e vez ou outra acontece um grunhido abafado, quase um soluço. Eu sei, é horrível.
E então depois de acender um cigarro e reclamar do trânsito
(Um pouco antes de eu pensar que talvez fosse o fim do mundo e que por isso havia tanta gente na rua, que as pessoas estavam tentando fugir de algum meteoro assassino).
Antes disso, você me perguntou porque eu estava rindo tanto.
Eu não respondi, fiz um gesto pequeno.
E continuei rindo dentro da noite linda. Preso num trânsito caótico as dez da noite em São Paulo.
Continuei rindo de tanta tristeza.

sexta-feira, março 07, 2008

Sapos

Os sapos sempre tão interessantes.
Gosto deles.
Os príncipes me dão no saco, sempre perfeitos demais, engomados demais, fúteis demais.
Reparou que o príncipe sempre está preocupado: se o cabelo está arrumado, se o corpo está bonito se o cavalo ta branquinho, se o outro sabe que ele é belo se ele se ele se ele.
Príncipes são umbiguistas (sim eu invento palavras).
Os sapos não! estão lá na lagoa sem muitas preocupações tentando comer a primeira mosquinha.
Uma vida assim tão desapegada.
Têm historias, noturnas, vespertinas, se você parar para conversar com um sapo, vai se encantar.
Eles sempre ou quase sempre têm uma vida interessante.
Muitos deles são conscientes da condição anfíbia e não esperam um beijo para ser.
Eles são.
E o melhor é que eles sabem ser príncipes também.
Quando amados e descobertos... Ah meu amigo!
Pode acreditar que ele vai te fazer feliz.
São defensores de que a embalagem não diz nada.
Que a beleza é passageira e está além.
Muitos acham os sapos nojentos, feios e sem graças
Eu não.
Eu gosto dos verdinhos.
Não preciso do seu cavalo branco, de sua roupa engomada.
Venha desprovido de tudo e descobriremos o mundo!
Eu e meu sapo.

quinta-feira, março 06, 2008

Qualquer bobagem

Utilize o corrimão, nunca ligue no dia seguinte, não fume, não transe no primeiro encontro, mantenha-se à esquerda, termine uma relação sempre com a frase “não é com você...”, assento reservado, nunca diga eu te amo, em caso de emergência quebre o vidro, não chore, verifique se o elevador encontra –se parado neste andar, emagreça, se beber não dirija, tome coca –cola, use bombril, beba com moderação, ao persistirem os sintomas procure um médico, não sinta falta, esqueça o bom dia, esqueça o afago, mantenha a porta fechada, e

POR FAVOR BATA ANTES DE ENTRAR.

Para que eu possa abrir primeiro as portas e depois as janelas.
Para que você não me consuma de tal forma que.
Para que eu não chore mais dentro da madrugada esperando um telefone que não toca.
Para que eu não procure o teu rosto em todos os outros, o teu jeito de andar.
....
Será que você pode cruzar meu caminho assim sem que eu perceba, e sem perceber segure minhas mãos de um jeito único?

Ilumine minha tão previsível vida.

quinta-feira, fevereiro 28, 2008

Para onde? ou: Eu já fui Jovem

Para onde vão os sonhos?
Que caminho?
Que trilha é essa?
Para onde vamos?
Todos nós?
Onde ficam as noites aquecidas?
Sentados bem em frente à lareira
Para onde vão as conversas, depois do vinho, das imagens, de tudo que vivemos?
Lembro-me de noites (quarenta graus) olhando pela janela, fechando um livro, desligando a tv.
Lembro-me de pensar: “Sei exatamente onde quero estar”.
Por onde anda os amores?
Os amantes?
Faz tanto tempo
Que às vezes acho que me esqueci.
Esqueci o que é ser jovem demais.
Jovem demais para morrer.

segunda-feira, fevereiro 25, 2008

Medos & Pensamentos

Toda vez que olho as pessoas nas ruas eu penso.
Penso em coisas que não deveriam ser pensadas.
Penso quanto tempo ela gastou pra calçar aquelas sandálias verdes combinado com a blusa.
O tempo que ele demorou para dormir na noite anterior.
Se tinha alguém olhando para o céu no mesmo momento que eu olhava.
Penso tanto que perco fôlego.
Tenho medo da morte.
Medo de morrer dormindo
De levar um tiro.
De ser contaminado por uma doença fatal.
Medo.
No carro quando paro no semáforo da Rebouças eu penso na história do motorista ao meu lado.
De onde ele vem? Pra onde ele vai?
Fico tentando arrumar a casa, a vida, colocar os livros em ordem.
Tentando não sair, não beber.
Tentando não pensar em ácido, erva, pó.
Tentando ter uma vida mais saudável.
A dieta que nunca acontece.
Sinto raiva de muitos.
Às vezes sinto raiva de onde estou. Crio um ódio só para me sentir vivo.
E penso se já não estou morto.
Penso que o mundo às vezes para.
Tenho medo da amargura em mim.
Tenho medo do amor em mim
Às vezes na sacada as três da manhã penso em me jogar feito uma boneca de pano.
Terá secado?
Penso onde foi que me perdi.
E que não sei cuidar de mim.
Penso que isto tudo é uma baboseira.
Espaçosa que me aflige.
Penso em tudo e em nada.
No ar nos meus pulmões, no meu cabelo torto.
No piercing que caiu.
Penso tanto que sucumbo.
Medo de não acabar nunca
De não conseguir vomitar. Por pra fora esta angústia sabe Deus lá do que...
Ai, eu penso em Deus
E desisto...

sábado, fevereiro 23, 2008

Sábado chuvoso.

Os meus pés sempre ficam sujos enquanto todos os outros estão limpos.
Uso tênis Branco em dias chuvosos.
Durmo com a luz do banheiro acesa.
Tenho medo de escuro e altura.
Fumo muito e as vezes sozinho na fila do cinema finjo falar no celular.
Só para espantar a Solidão.
E para espantar a solidão finjo ser minha, a vida das personagens que leio.
E leio muito
Choro assistindo "Frida" e assisto sempre.
Sou cruel comigo e com os outros.
Destruo tudo com uma velocidade e facilidade invejável.
Tenho caixinhas onde guardo amigos e amores.
Tenho feridas exposta e todo mundo coloca o dedo.
Não tenho rosto.
Carrego o mundo nas costas, dentro de uma mochila laranja.
É facil me encontrar na rua, sempre tarde da noite, sentado em algum buteco tomando cerveja barata e com olhos brilhantes.
Sou tudo aquilo que restou do menino que era o unico que não tinha estojo de metal no colégio.
E nada mais.

segunda-feira, fevereiro 18, 2008

Um banho qualquer

Apesar do dia quente encho a banheira de água morna
Só porque falta um dia para voltar para casa.
Estou cansado, meio desanimado e com a noite toda pela frente para pensar em coisas que nunca deveriam ser pensadas.
Jogo todo o pacote de sais comprado na lojinha de shopping. "Relaxante" foi o que disse a vendedora para me convencer a trazer quase um quilo.
Me deito. Coloco kings Of Convinience para ouvir. Abro o livro de Fernanda Young, o único que não li. Acho chato. Óbvio demais, repetido...
Vou relaxando... deixo o livro de lado. Quase esqueço o que estou fazendo aqui neste hotel onde tudo é impessoal demais, como qualquer hotel em qualquer parte do mundo.
Minha mente vai ficando vazia... o mundo parece ser composto pelo teto branco, a banheira cinza e minha unha do pé direito mal cortada.
Vou ficando mole demais olho a fumaça que vai invadindo o banheiro, é um cenário de um filme "b". Afinal qual personagem enche a banheira de água morna, quase quente, numa cidade com um clima como esse? Numa noite quente como essa?
Fato é que estou relaxado demais e meu corpo todo vai ficando mole... tudo parece não fazer sentindo algum, muito menos a unha mal cortada.
Suspendo meus braços... mente vazia...penso que sensação assim só sentia nos tempos de faculdade depois de queimar "um".
Ficava relaxado demais, e depois de toda a euforia inicial meu corpo todo se desfazia como se estivesse imerso em água morna e eu não tinha mais vontade de pensar em nada.
Derreto.
E assim derretido o mundo pode parar.
A sensação é boa. E apesar da noite quente, da vontade de voltar para casa, da carência afetiva, do cansaço, penso que seria bom fumar maconha.
Apesar dos trinta.

quarta-feira, fevereiro 13, 2008

Noticias de BH

Cena 1 interna. Dentro de uma grande rede de supermecados. Quatro amigos, duas meninas e dois rapazes tentam decidir o que levar para matar a fome no final de domingo sem graça. Eles estão parados no imenso corredor de chocolates.
Depois de alguns segundos de silêncio ele diz:
- Já entendi a mensagem do "extra"
-Que mensagem...GENTE!
- o "extra" é igual em qualquer cidade...as mesmas coisas... o mesmo cen ário, a mesma disposição de mercadorias(olha em volta contemplando) é isso. A mensagem subliminar é: Não importa em que lugar você esteja no "extra" você sempre se sente em casa!

Cena 2 interna. Quarto de Hotel.
Eles, os moços, assistem tv.

-Será que se eu dormir sem escovar os dentes depois de comer uma "bono" chocolate branco vai passar barata na minha boca?
-NÃO. Estamos no vigésimo andar. elas não chegam até aqui...
-É...
- O problema são as cáries....
-ahahahahhahahahahahahhahahahahahhaha.

-toda vez que to assim penso em me jogar daqui...
-todo mundo pensa em se jogar depois disso, ou uma vez por dia, pelo menos...
-se eu me jogasse agora eu nem sentiria dor, acho.
-você pensaria "ui que vento"...
-ahahahhahahaha...mas não me jogarei, hoje é um péssimo dia para se morrer. Segunda feira.
-pode-crê.
(silêncio)
-será que a Marília Gabriela ja tentou se matar?
- acho que o gianechinni pensava em se matar todo dia pela manhã quando acordava do lado dela. ela é feia produzida. deve ser um monstro acordando...
-ahahahahahahhaha. vou escovar os dentes, esse lance de baratas me deixou encanado
....

quinta-feira, fevereiro 07, 2008

Plataforma de petróleo. Ou: Me responda, se estiver ai

Você já pensou assim e desistiu?
Já esteve no colo de quem você desejou e se sentiu só?
Já jantou?
Já dançou?
Já tocou a boca que você queria?
E se sentiu só.
Já chorou assim compulsivamente depois de um filme?
Já teve vontade de dizer de fato como se sentia?
Violado, cansado, cheio de cicatrizes, com medo de se afogar nas mesmas historias, sem bóias ou salva vidas.
Já se sentiu assim?
É como estar numa plataforma de petróleo, onde o mar encontra a escuridão....
Já quis soltar sem querer?
Já quis deixar sem soltar?
Já?
Já teve medo de ser só?
De tuas lagrimas inundarem teu quarto, a rua, o bairro o mundo?
De teus pensamentos serem formigas e serem esmagados com um All Star?
Já teve medo?
Já engoliu mais de uma vez?
Já?
Esse teu nó? Essa coisa na tua garganta.

segunda-feira, fevereiro 04, 2008

Para ler quando partir

Eu ainda sou um fardo pesado demais para você carregar.
Há ainda pedaços de carnes.
De outros, um passado recente.
Pedaços vermelhos sobre minha pele branca.
Acenda meu cigarro.
É claustrofóbico viver dentro de mim
Não esqueça tuas meias brancas
Sinto náuseas no escuro que me envolve
Tenho medo de dormir sozinho.
Encha meu copo, um último gole
Olhe para mim
Sei que sou resto de outras histórias
De todas que carrego comigo
Minhas costas doem
Não esqueça tua jaqueta jeans, tá frio.
Vivo aqui nesta floresta onde tudo ao meu redor está morto.
É a minha floresta particular.
Onde me perco.
Olha… Teu cd, não te esqueça. Vai precisar dele quando sair em disparada pela rua vazia
Quando estiver no semáforo fechado vai querer ouvir mais uma vez a música.
A nossa.
Não tente entender nada. São só palavras vazias.
Eu ainda fico um pouco mais.
É preciso estancar o sangue. É preciso não sentir medo.
Eu fico.
Saia devagar, não me diga nada. Beije minha testa.
E feche a porta.
Ficarei aqui sentado sobre os lençois brancos
Enquanto a parede azul atrás de mim desmorona…

quinta-feira, janeiro 31, 2008

Depois do jantar, Um funeral (antigo que gosto muito

No dia da minha morte prepare margaridas, grandes, amarelas e brancas.
Não deixe que me pintem muito.
Não quero parecer um palhaço, nem corado ou saudável demais, afinal quem se importa?
Peça para me vestirem claro.
Uma bata branca bonita, uma calça larga e com as barras desfiadas, cubra meu corpo de margaridas, e não desça a tampa, não ainda.
Deixe uma música suave, pode ser Bjork. Deixe tocar uma música até o fim. Odeio o silêncio de funerais, odeio o barulho das moscas e a tosse da tia velha.
Se alguém sentir vontade de dançar que dance. Sirva taças de vinho tinto seco.
Um funeral regado à vinho.
No meu livro da morte, não escreva teu nome.
Me escreva poemas.
Se alguém sentir vontade de chorar, que chore manso.
Reunam- se todos vocês amigos e contem histórias engraçadas sobre mim.
O meu testamento será pouco, alguns livros, uns poemas, umas canções.
Deixo para poucos também
Os que me conhecem exato.Na minha mais estranha doçura.
No dia do fim estará chovendo, não deixe que ninguém use guarda chuva. Acho lindo em funerais todos estarem vestindo capas de chuva.
Não deixe que eu vire rei, santo, ou jovem demais para morrer.
Paras os que não me conhecerem me descreva como fui.
Sem aumentar ou exaltar minha dignidade.
Diga que não fui um bom menino.
Mas passei longe de ser do mal.
Diga que vivia assim oscilando ali bem na beira do abismo.
Que as vezes dava medo de ver, mas que era bonito... Ah! isso era.
Receberá telefonemas de amigos distantes. Diga que está tudo bem.
No dia do meu funeral, haverá uma calmaria, um trânsito leve, uma garoa fina.
As pessoas sentirão uma paz, um silêncio gostoso.
E assim meio triste e até melancólico,você dirá baixinho quase sussurrado no jardim bonito que terá preparado:"Um dia assim, nem combina com a cidade caos."
Escreva meu epitáfio, uma frase solta quase esquecida.
Depois acenda um cigarro, dê uma tragada funda e fique um tempo mais comigo mesmo que a porta já tenha se fechado. E todos terem ido.
Fique comigo.
Tire seus sapatos sinta a chuva no teu peito e assim com os pés na terra molhada saia devagar, se der levante a cabeça e sorria.
E deixe que a chuva leve tudo ainda que restou

terça-feira, janeiro 29, 2008

A infância do Joãozinho.

O problema é ter uma vida de "Rock Star".
Não, o problema é ter uma vida de "Rock Star" e não ser um.
...
Os professores diziam, os amiguinhos diziam. Todos ao redor diziam: "Você tem talento".
Ele gostava de escrever, gostava de passar as noites preso no quarto, debruçado sobre seu fichário quase feminino. Escrevendo sobre tudo que achava que entendia.
Ele ainda menino, nem tão inocente e longe da amargura da vida, achava que tinha sofrido demais e escrevia.
"o poeta é um fingidor" repetia mil vezes pra si mesmo enquanto dissertava sobre dores que ele ainda nem sentia.
Achava mesmo que aprendera a fingir cedo demais, criar pra si uma outra vida quase como num conto infantil, um mundo paralelo cheio de personagens quase sempre bem mais interessantes que aqueles que fazia parte da vida fora do quarto.
E no dia seguinte, no colégio, as meninas eufóricas pelo texto novo escrito pela madrugada. "Lindo!" "Posso copiar?" "Quero mandar para o juninho"
E ele sonhava, desejava e acreditava naquilo tudo. Em tudo que o papel lhe dizia.
E Lia, lia tanto que já naquela época perdia noites de sono só para terminar o livro logo.
Seguia assim o menino lá do interior, promissor. Era sem dúvida, dizia a professora de portugês da sexta série, um jovem escritor...
Mas no meio do caminho uma curva, o vento que mudou de rumo, uma pedra que bateu na janela, um soluço tardio, um pé torcido.
Um grito entalado na garganta.
Ele virou bancario

quarta-feira, janeiro 23, 2008

Depois do Vinho

Tenho vontade de ter asas
Sair voando em silêncio pela janela de casa, olhando a cidade de cima.
Vontade de ser oceano e sair inundando tudo.
Não posso.
Então fecho os olhos no escuro e coloco um cd de Nara Leão. Me deito no chão
E encho minha cabeça de cores.
Imagino que sou leve e que caio como gota na testa das pessoas
Sou engolido devagar com a ponta da lingua.
Só para entrar bem fundo e brincar de ser Deus, duende ou fada.
Remexo em tudo, tiro tudo do lugar, peça por peça.
Para me reencontrar em cada mão, sombrancelhas, gestos imprecisos.
Roubar pra mim minha cada história.
Só para depois, dissimulado, cuspir tudo em um papel...

Fábula (só pq eu gosto muito deste)

Mora um monstro dentro da minha pia.
Ouço barulhos que vem de lá
Acredito que ele esteja chorando, de solidão ou angústia.
As vezes eu choro também e sei que ele pode me ouvir
Os outros moradores da casa desconhecem a existência dele.
O que o torna meu. Único e exclusivo monstro.
Sei que ele deve ser feio, até mesmo gosmento
Durante a madrugada ouço seus passos pela casa adormecida
Ele vem até meu quarto, quer me dizer coisas belas e sujas.
Fico bem quieto, fingindo dormir.
Tenho vontade que ele me toque
Embora o cheiro me fere as narinas.
Tenho medo de abrir os olhosE encara-lo.
Ele é triste e sozinho.
Belo por dentro
Aprisionado em tanta feiúra.
Eu o amo em segredo
Ele me ama em segredo.
Apesar de moramos juntos e desejarmos as mesmas coisas, de sonharmos os mesmos sonhos
De fazermos parte da mesma pia, não nos temos.
Preconceito meu.
Preconceito do monstro.

terça-feira, janeiro 08, 2008

Uma histórinha. Ou mais sobre as formas do amor

São dez horas da manhã. O sol escaldante queima a cidade caótica.
Tanto calor nem combina com a cor cinza desta cidade.
Enquanto saio do banheiro tentando achar uma roupa decente para vestir lembro-me de ter lido em algum lugar que este ano será o ano de marte.
Sem saber o que isso quer dizer tento acordar sem querer, viver sem vontade.
O quarto está parecendo um campo de batalha e há roupas e jornais antigos jogados pelo chão. Os pés dela ainda continuam na mesma posição. Ela ainda continua na mesma posição, de bruços, a única coisa diferente dos outros dia é este vermelho nítido nos lençóis...
A casa toda parece ter sobrevivido a um furacão. Bitucas de cigarro, latas de cerveja vazias, sobras de uma noite festiva que parece tão distante agora. Em que século mesmo?
O sol entra cortando a escuridão da pequena cozinha, louça de muitos dias na pia.
E eu sem vontade tentando achar uma roupa... um jeans qualquer, um all star velho...
Vontade de ligar e dizer que hoje não vou, nem hoje nem nunca mais.
A cidade acontece lá embaixo. Trânsito, gente feliz, gente correndo, telefones que tocam, amigos que se encontram para um café tardio.
E eu só penso em parar.
Encontro a roupa qualquer, não penteio os cabelos e saio. No elevador penso que era bom aguar as plantas da sala. Quem se importa?.
A rua cinza, fedida... tanta gente... tanta gente morta meu Deus! Me sinto em um filme de zumbis. O sol me dá preguiça. Ponto de ônibus. Gente feia, cansada, mal humorada, ônibus lotado. Desço já bem atrasado no ponto final.
Duas quadras de distância da redação finjo minha melhor cara. Respiro fundo e vou.
Entro com o melhor sorriso, digo bom dia a todos com um entusiasmo irritante. Pego um copo plástico de café preto, forte, sem açúcar.
Sento-me na frente do computador de última geração, presente do chefe. Alguém faz uma piadinha e a sala de "jovens e promissores talentos" ri.
E começo então a escrever a notícia do dia.
Mais um crime passional na noite fervilhante da cidade...
Uma história banal sobre o amor.

segunda-feira, janeiro 07, 2008

Fazendo a linha desapegado. Sem ser

Eu nunca fui de fazer listas de ano novo, nem planejamento, nem nada.
No máximo eu fico sonhando com coisas fantasiosas do tipo "este ano eu escrevo um livro" ou "este ano eu estarei em um trem em Berlim e encontrarei o tal rapaz".
Quando eu tinha vinte anos eu achava que aos trinta eu já teria casa própria, casado etc, etc, etc...
Agora aos 29 anos nem sei... nem sei para onde vou e como vou, onde estarei daqui a três meses, que cidade, que país, com quem, fazendo o que...
E prefiro assim. Cada ano que passa eu vou tendo a certeza que serei sempre assim, meio errante no mundo. E isso não me impede de escrever o tal livro. De ter uma casa para voltar as vezes e de um amante para me aporrinhar a paz e dilacerar o coração.
Mas quero assim errante.
Sem listas
Sem "segredo"

Mas isso também é mentira.

Quero manter em mim meu lado Dorothy e bater três vezes o calcanhar para que meu desejo se realize.
Quero me apegar na receita da dieta fácil e a tudo que me parecer milagroso. Quero continuar na mesma cidade e mantendo os mesmo amigos.
E isso, como você já deve saber, é mentira