Eu precisei morrer para escrever um livro.
E o dia da minha morte foi bem diferente do que eu tinha imaginado, não foi um funeral regado a vinho tinto seco. Não estava garoando e as pessoas não usavam capas de chuva.
O meu corpo ficou um dia numa gaveta de um hospital, e mais uma manhã sendo transportado para minha cidade natal.
E se havia uma coisa que eu realmente não queria era isso, voltar para aquela cidade.
Nem mesmo morto.
No dia da minha morte a cidade teve um dia de congestionamento recorde, trezentos quilômetros de lentidão e as pessoas estavam irritadas e apressadas demais para notar que alguém estava se enforcando em um ponto qualquer até mesmo meus melhores amigos.
E apesar de estarmos no meio do mês de maio fazia um calor infernal e os legistas descobririam mais tarde que haviam milhares de picadas de pernilongos espalhadas pelo meu corpo da noite mal dormida, anterior ao meu suícidio.
Se o momento exato da minha morte não fora nada glamuroso e muito menos romântico, o meu funeral foi um fiasco total.
Fazia calor naquela cidade, havia sim a tia gorda que não parava de tossir e na sala ao lado velavam o corpo de um figurão político que tinha morrido de infarte fuminante aos 45 anos de idade, uma grande perda para a cidadezinha.
Eu virei estatística, mais um número, fui citado no rodapé de uma noticia do jornal local. Nada demais.
No dia seguinte, como pude constatar, tudo voltaria normal e com o passar da semana as pessoas logo iriam se esquecendo e tudo continuava como antes.
Vez ou outra eu era lembrando por algum amigo geralmente bêbado e num rompante de melancolia.
Aliás, nem todos os amigos compareceram ao velório, por ser um cidade distante e terem compromisssos profissionais a cumprir aqui na capital.
Mas os mais importantes estavam lá isso eu não posso negar.
Tudo foi lento e pesado demais, as pessoas falavam baixo, algumas se lamentavam por não terem percebido "os sinais".
Näo tocaram minhas músicas prediletas e nem escreveram uma frase bonita na minha lápide.
Havia muitas moscas e vez ou outra alguëm chorava alto demais.
Ninguém respeitou minha vontade final, ninguém fez nada daquilo que eu tinha pedido.
A não ser uma pessoa que pareceu sozinha, depois do enterro quando todas tinham ido embora, tirou os sapatos, vestia uma calça branca, depositou uma margarida sobre meu túmulo e tomou uma taça de vinho. Não chorou. Estava serena e havia nele uma calma e paz absolutas.
Mas sobre esta pessoa eu falo mais tarde
Talvez no final dessa história você entenda o porque aos 29 anos de idade eu resolvi dar cabo da minha vida.
Ou não.
Tem uma cena que não sai da minha cabeça. ela vestida de branco dança assim dolorida com uma taça de vinho na mão. Olha a cidade amanhecendo quinze andares abaixo. Ela sorri de olhos fechados. Ela sorri doendo. Uma gota de vinho vermelho nítido cai sobre o vestido branco. Abre os olhos e pensa "esse é so o começo do fim, baby".
terça-feira, maio 20, 2008
quarta-feira, maio 14, 2008
Sindrome de Jonas
Eu estava debruçado na ponte.
Olhando o rio fétido às sete horas da noite na cidade caótica.
126 quilômetros de congestionamento na marginal tiete.
Acendi um cigarro.
As sete da noite olhando o transito infernal de cima da ponte.
E não pensava em nada.
Então, assim de repente ele apareceu o monstro gigante, de chifres e calda, dois olhos vermelhos nítidos.
Era quase um dragão com o coração exposto do lado de fora
Prendi minha respiração e sem pensar em nada ele me engoliu.Às sete horas da noite, um trânsito caótico e tanta gente com pressa.
Olhando o rio fétido às sete horas da noite na cidade caótica.
126 quilômetros de congestionamento na marginal tiete.
Acendi um cigarro.
As sete da noite olhando o transito infernal de cima da ponte.
E não pensava em nada.
Então, assim de repente ele apareceu o monstro gigante, de chifres e calda, dois olhos vermelhos nítidos.
Era quase um dragão com o coração exposto do lado de fora
Prendi minha respiração e sem pensar em nada ele me engoliu.Às sete horas da noite, um trânsito caótico e tanta gente com pressa.
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