terça-feira, maio 20, 2008

Primeira Pagina

Eu precisei morrer para escrever um livro.

E o dia da minha morte foi bem diferente do que eu tinha imaginado, não foi um funeral regado a vinho tinto seco. Não estava garoando e as pessoas não usavam capas de chuva.
O meu corpo ficou um dia numa gaveta de um hospital, e mais uma manhã sendo transportado para minha cidade natal.
E se havia uma coisa que eu realmente não queria era isso, voltar para aquela cidade.
Nem mesmo morto.
No dia da minha morte a cidade teve um dia de congestionamento recorde, trezentos quilômetros de lentidão e as pessoas estavam irritadas e apressadas demais para notar que alguém estava se enforcando em um ponto qualquer até mesmo meus melhores amigos.
E apesar de estarmos no meio do mês de maio fazia um calor infernal e os legistas descobririam mais tarde que haviam milhares de picadas de pernilongos espalhadas pelo meu corpo da noite mal dormida, anterior ao meu suícidio.
Se o momento exato da minha morte não fora nada glamuroso e muito menos romântico, o meu funeral foi um fiasco total.
Fazia calor naquela cidade, havia sim a tia gorda que não parava de tossir e na sala ao lado velavam o corpo de um figurão político que tinha morrido de infarte fuminante aos 45 anos de idade, uma grande perda para a cidadezinha.
Eu virei estatística, mais um número, fui citado no rodapé de uma noticia do jornal local. Nada demais.
No dia seguinte, como pude constatar, tudo voltaria normal e com o passar da semana as pessoas logo iriam se esquecendo e tudo continuava como antes.
Vez ou outra eu era lembrando por algum amigo geralmente bêbado e num rompante de melancolia.
Aliás, nem todos os amigos compareceram ao velório, por ser um cidade distante e terem compromisssos profissionais a cumprir aqui na capital.
Mas os mais importantes estavam lá isso eu não posso negar.
Tudo foi lento e pesado demais, as pessoas falavam baixo, algumas se lamentavam por não terem percebido "os sinais".
Näo tocaram minhas músicas prediletas e nem escreveram uma frase bonita na minha lápide.
Havia muitas moscas e vez ou outra alguëm chorava alto demais.
Ninguém respeitou minha vontade final, ninguém fez nada daquilo que eu tinha pedido.
A não ser uma pessoa que pareceu sozinha, depois do enterro quando todas tinham ido embora, tirou os sapatos, vestia uma calça branca, depositou uma margarida sobre meu túmulo e tomou uma taça de vinho. Não chorou. Estava serena e havia nele uma calma e paz absolutas.
Mas sobre esta pessoa eu falo mais tarde
Talvez no final dessa história você entenda o porque aos 29 anos de idade eu resolvi dar cabo da minha vida.

Ou não.

quarta-feira, maio 14, 2008

Sindrome de Jonas

Eu estava debruçado na ponte.
Olhando o rio fétido às sete horas da noite na cidade caótica.
126 quilômetros de congestionamento na marginal tiete.
Acendi um cigarro.
As sete da noite olhando o transito infernal de cima da ponte.
E não pensava em nada.
Então, assim de repente ele apareceu o monstro gigante, de chifres e calda, dois olhos vermelhos nítidos.
Era quase um dragão com o coração exposto do lado de fora
Prendi minha respiração e sem pensar em nada ele me engoliu.Às sete horas da noite, um trânsito caótico e tanta gente com pressa.