sexta-feira, setembro 25, 2009

Aquele Rapaz

Eu não sei. Ele tinha um jeito, assim, de lavar as mãos.
Ele esfregava suavemente uma sobre a outra, lentamente, enquanto se olhava no espelho da pia.
Não que fosse tão diferente de todo mundo que estava ali e fazia a mesma coisa
Mas havia alguma coisa nele que me chamou a atenção, eu estava na fila do banheiro e fiquei olhando aquela cena, aqueles olhos no espelho que me viram.
Talvez tenha sido isso, o olhar.
Alguma coisa naquele rosto claro, os cabelos quase loiros caídos na testa, as costas largas, meio desajeitado, lavando as mãos se olhando no espelho.
Como se fosse a única pessoa do bar, como se o mundo não existisse mais
Apenas ele.
O que será que ele pensava?
Eu podia ouvir o som abafado da musica alta e as risadas no salão.
Meus amigos me esperavam para dali irmos á outro lugar.
De repente, eu não sei, uma vontade maluca de falar com ele.
Ele fechou a torneira, secou as mãos brancas e saiu.
Pronto. Acabou.
Chegou a minha vez, depois minha hora na pia. Tentei fazer igual, olhando o espelho tentava inutilmente pegar alguma coisa dele...como se ele estivesse ali ainda.
Quase podia ouvir o som de seu coração.
Não sei se foi o jeito em que ele lavou as mãos
Ou olhar.
Sua beleza clara.
Eu não sei.
Quando eu voltei, meus amigos já tinham pago a conta, estavam de pé.
Eu estava um tanto mais sério, não o vi no salão, mas ele devia ainda estar por ali.
Tentei esboçar um sorriso, não consegui. Alguém falou alto alguma coisa engraçada, estávamos já saindo do bar quando de súbito um nó na garganta, uma vontade absurda de chorar.
Não sei se foram as mãos.
Na rua senti a brisa suave da noite de sábado.
Então entendi
Que ele era o rapaz mais triste do bar.

quarta-feira, setembro 23, 2009

Do mais, nada demais

Ando tão afastado daqui
Das palavras
Dos sentimentos
Do gosto das coisas
Assim meio perdido, vago em mim
E me descubro
A cada dia um canto novo, que eu não conhecia, um olhar diferente no espelho antes de dormir.
Uma legião aqui dentro
Desconhecidos, inabitáveis, lugares escuros
Para onde eu tenho ido, em uma viagem sem volta
Ando por aí como se existisse uma fina camada de poeira sobre meus olhos que não me deixa ver claramente.
O sol da manhã (tão raro atualmente) queima minha pele branca
E apesar da chuva, da garoa, desses dias pesados, tenho tido noites quentes
Meu corpo em brasa
Manchando os lençóis
Todo dia quando acordo é preciso trocar a roupa de cama
O leito de um doente, a cama de amantes.
Nada disso
Eu
Apenas.
Sozinho em dias longos, em noites quentes, madrugadas silenciosas
Dentro de mim.
Uma auto descoberta
Sem fim
E sigo
Como se nada acontecesse
Mas te aviso:
Estou preste a explodir a qualquer momento
Assim
Como um vulcão.
Pelas paredes encardidas do apartamento claustrofóbico escorre uma lama densa, uma mistura de cores sons e mãos que me negam o afago.

terça-feira, setembro 01, 2009

Minhas confusões mentais

As vezes pela madrugada eu tento estancar o sangue

............

Eu queria escrever sobre tudo, eu queria eternizar o momento exato das coisas, eu queria contar neste papel que dentro de mim tem um bicho, uma coisa que queima.

Eu queria contar uma história, queria falar sobre a beleza de olhar a estrada pela janela do carro, enquanto no rádio toca tua música preferida.

Queria contar a hora exata da felicidade.


Eu queria dizer que o amor te fode por dentro, mas que é uma fodida gostosa.
Que é a praga do mundo, que a gente ama porque vicia, sem saber.
Porque amar é estar vivo.

E o amor te mata aos poucos cada dia.
A gente morre. Sempre...

Poder lhe mostrar que amar é estar no escuro e a gente não quer a luz.

É cocaína, é abismo.

O amor te corrompe, mancha a pureza. Queria dizer que não, não adianta, ninguém escapa, você vai amar e aí amigo...

To aqui, querendo ser escritor.

To aqui querendo te falar que o amor é uma angústia necessária...

Mas eu não vejo mais nada, então.

Eu sucumbo...