terça-feira, julho 14, 2009

Carta.

Amigo,

Um misto de Dor e paz.
A vida doméstica anda confusa. Como cantou Calcanhoto:
"Eu perco a chave de casa, eu perco o freio, estou em milhares de cacos, estou ao meio..."
Dividido. Uma parte de mim tá cheio de fé, esperançoso, a vida é boa dona canoa.
Outra parte é só lama, sente medo e quer voltar pro ventre.
A torneira da pia quebrou. Há mais de um mês. Quebrei o vidro da porta em uma faxina desastrosa. Minhas chaves sumiram. A grana acabou e ainda não é dia 15...
Ando carente pra caralho. Achando esse papo de viver sozinho e se bastar uma bosta.
Quero um amor que seja bom pra mim. Sabe? Com direito a música brega para embalar as tardes de ausência.
Cheio de bares. Das pessoas na noite. Nas ruas.
Impressão que os dias se repetem...
E misturado a isso tudo, uma fé absurda, infantil. Uma esperança quase ilusória de uma vida boa. De um dia melhor. De estar caminhando.
De.

É amigo, o tempo corre e como vê, eu ainda confuso.
Me sinto um estrangeiro em minha própia terra, meu própio mundo.
Toda vez que falo com minha mãe no telefone a mesma ladainha "tem que tratar essa depressão meu filho, isso dá câncer".
A minha eu curo em bares, noites que duram dois dias e 15 horas de trabalho diário.

Enfim, ando irritado, cansado, com sono e sem nenhuma vontade de escrever. Achei que devia te contar isso, justificar minha ausência...

Te beijo na testa,

P.s Tenho escutado bastante coisas velhas da calcanhoto. E sempre gosto.

Um comentário:

Escrevendo pra esquecer disse...

fiz 27 anos domingo, nenhuma vontade de festejar, só de voltar pra o útero. ai ai, preciso de uma casa para perder as chaves. abrax.