Sentada, descalço, pinto as unhas dos pés de vermelho.
Vermelho vivo, quente, como sangue que pulsa.
Olho ao redor, a minha pequena sala vazia
Grande merda.
Algodões brancos separam os meus dedos
Cheiro forte de acetona.
Penso em descolorir os pelos das pernas, bicarbonato, tão anos 80.
Lembro-me da infância perdida, do sonho perdido.
Da música que tocou.
Sábado à noite, sozinha, melancólica pinto as unhas do pé.
Não são nem dez horas da noite, to bêbada, uma garrafa de vodca pela metade.
Sentada no sofá rasgado, roxo, vestindo uma camisola, me preparo para dançar.
Quem se importa?
Ainda falta escolher a roupa, arrumar o cabelo, chamar o táxi.
Sair.
A noite longa me espera. Sinto-me suja, inadequada.
O que importa?
É a vida baby! No som qualquer coisa que me distraia
Olho pro telefone mudo.
Alguém vai ligar, sempre liga.
As histórias se repetem.
Sozinha. Ainda é sábado e a noite mal começou.
Não quero um amor, não quero problemas...
Se pinto as unhas, a face o cabelo, se quero outra coisa é por isso.
O amor não é pra mim.
Assim fudida, fracassada, unhas vermelhas, vejo a imagem na TV sem som.
Respiro fundo, tenho vontade de morrer.
Não nessa noite que nem começou, talvez amanhã antes do jantar.
Querendo mais vodca, desejando ser mais magra, mais loira, mais fatal.
Suspiro.
O telefone toca.
E apesar do vazio, da busca constante, do querer mais além, eu atendo.
Afinal hoje é sábado!
E assim tentando ser despretensiosa
Eu só quero.
Tudo que eu quero
É dançar.
Tem uma cena que não sai da minha cabeça. ela vestida de branco dança assim dolorida com uma taça de vinho na mão. Olha a cidade amanhecendo quinze andares abaixo. Ela sorri de olhos fechados. Ela sorri doendo. Uma gota de vinho vermelho nítido cai sobre o vestido branco. Abre os olhos e pensa "esse é so o começo do fim, baby".
terça-feira, novembro 30, 2010
sábado, novembro 20, 2010
Superman
Me conte coisas bonitas.
De uma outra vida.
Das terras que você conheceu.
Dos sonhos que você teve cada noite.
De cada noite escura, como você resolveu.
Me conte outra vida.
Me leve pra longe.
Me tire de mim.
Porque mais do mesmo me cansa.
Me irrita
E eu vejo que é a vida
Assim mesmo.
Me leve daqui
E me conte uma nova história.
Algo que eu ainda não saiba.
Me ensine a jogar boliche, me leve para ver o por do sol.
Ou a Lua.
Me diga. Logo. Depressa.
Entre um drink e outro
Que não, viver não é isso.
De uma outra vida.
Das terras que você conheceu.
Dos sonhos que você teve cada noite.
De cada noite escura, como você resolveu.
Me conte outra vida.
Me leve pra longe.
Me tire de mim.
Porque mais do mesmo me cansa.
Me irrita
E eu vejo que é a vida
Assim mesmo.
Me leve daqui
E me conte uma nova história.
Algo que eu ainda não saiba.
Me ensine a jogar boliche, me leve para ver o por do sol.
Ou a Lua.
Me diga. Logo. Depressa.
Entre um drink e outro
Que não, viver não é isso.
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