terça-feira, janeiro 08, 2008

Uma histórinha. Ou mais sobre as formas do amor

São dez horas da manhã. O sol escaldante queima a cidade caótica.
Tanto calor nem combina com a cor cinza desta cidade.
Enquanto saio do banheiro tentando achar uma roupa decente para vestir lembro-me de ter lido em algum lugar que este ano será o ano de marte.
Sem saber o que isso quer dizer tento acordar sem querer, viver sem vontade.
O quarto está parecendo um campo de batalha e há roupas e jornais antigos jogados pelo chão. Os pés dela ainda continuam na mesma posição. Ela ainda continua na mesma posição, de bruços, a única coisa diferente dos outros dia é este vermelho nítido nos lençóis...
A casa toda parece ter sobrevivido a um furacão. Bitucas de cigarro, latas de cerveja vazias, sobras de uma noite festiva que parece tão distante agora. Em que século mesmo?
O sol entra cortando a escuridão da pequena cozinha, louça de muitos dias na pia.
E eu sem vontade tentando achar uma roupa... um jeans qualquer, um all star velho...
Vontade de ligar e dizer que hoje não vou, nem hoje nem nunca mais.
A cidade acontece lá embaixo. Trânsito, gente feliz, gente correndo, telefones que tocam, amigos que se encontram para um café tardio.
E eu só penso em parar.
Encontro a roupa qualquer, não penteio os cabelos e saio. No elevador penso que era bom aguar as plantas da sala. Quem se importa?.
A rua cinza, fedida... tanta gente... tanta gente morta meu Deus! Me sinto em um filme de zumbis. O sol me dá preguiça. Ponto de ônibus. Gente feia, cansada, mal humorada, ônibus lotado. Desço já bem atrasado no ponto final.
Duas quadras de distância da redação finjo minha melhor cara. Respiro fundo e vou.
Entro com o melhor sorriso, digo bom dia a todos com um entusiasmo irritante. Pego um copo plástico de café preto, forte, sem açúcar.
Sento-me na frente do computador de última geração, presente do chefe. Alguém faz uma piadinha e a sala de "jovens e promissores talentos" ri.
E começo então a escrever a notícia do dia.
Mais um crime passional na noite fervilhante da cidade...
Uma história banal sobre o amor.

Um comentário:

Somnia Carvalho disse...

Edilindo,
curioso como você começou na terceira pessoa, "ela", e não sei se se trraiu ou se foi intencional mudou para primeira, "eu"...

eu admiro o seu jeito de transformar a sua realidade numa realidade de alguém qualquer e a história ganhar essa dimensão extra.

Eu adoro suas histórias e neste texto, se me permite a intromissão muito das metidas e sem noção, eu acho que ele continuaria perfeito na terceira pessoa.

Ontem uma amiga ficou me dando pitaco no meu blog e eu fiquei triste... ela criticou varias coisas e eu fiquei pensativa... nao quero fazer o mesmo com voce, é apenas um comentário sobre um texto que, novamente, gostei muito!