De uma sensibilidade sem norte, nem Sirius, sem limitação de limites, sem fronteiras, sem cálculos variáveis porque toda página vai sendo preenchida com o descuido de uma gramática nada normativa. Ele vira para mais outra folha em branco e não quer rascunho nenhum, não tem cuidado nem com os sujeitos e peca nos adjetivos descolocados. Vai caminhando pela rua, atravessa, atende o celular, espreita outra pessoa do outro lado da rua onde ele estava. Enxerga meio mal quem está do lado e jura que sabe mais do mundo que muita gente: está perdido como a grande maioria.
Enquanto puxa um cigarro amassado do bolso e faz uma piada e ri alto, pede um abraço com a cara de menino que só vai perder quando se encontrar novamente no espelho, quando a balada acabar, quando o banho estiver muito frio e a cama sem forro e a poeira criando um mundo no canto da parede. Ele cisma, teima e finge que não entendeu ainda qual era o final da piada: que adianta se ele ri mesmo assim?
Tem um toque firme quando é chamado à seriedade do toque. Ama e não saber por que, gosta dos outros e não finge por que, quer uma passagem carimbada só de ida para bem longe do planeta, inventando outro planeta e, no meio do caminho encontrou outro cigarro amassado no bolso, outro sorriso na carteira cheia de bilhete em guardanapo esquecidos, e resolve que melhor é ficar nesse mesmo, que ele ganhou a preço alto, cicatrizes fundas, escolhas desencontradas e o caminho vai se formando e deformando e transformando como o suco de limão com cerveja, como o beijo esquecido dentro do livro, como o filme de amor que ele esqueceu de assistir.
Por: Manoel Arantes
2 comentários:
Querido Ed,
Pensei em mim, pensei em nós quando escrevi um texto hoje...
voce viu Piaf?
Cade você, meu querido amigo?
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