To aqui sentada. Cansada.
Sozinha, abandonada.
Olho o esmalte vivo das unhas curtas. Vermelho sangue.
Vermelho noite, vermelho claro.
Bebo o último gole de vodca barata, pouco gelo, desce queimando, aliviando o amargo que ainda resta.
Na boca do estômago, no canto da boca
Do beijo final.
Assim á meia luz. Meias pretas, salto alto.
Arrumo o coque no alto da cabeça. Ensaio um sorriso. Anos depois...
Parada. Contemplo no espelho os meus seios cansados. Esses olhos que desconheço.
O tempo que chega sem pedir licença. Já nem lembro mais quem sou. De onde vim para onde vou.
A noite ainda é uma criança e é preciso rebolar um pouco mais, beber um pouco mais, forçar mais este sorriso... Isso assim...
Amarga, triste, drogada... quem se importa?
Aqui parada olhando o esmalte vermelho.
Vermelho sangue.
Ouço carros apressados na avenida lá fora, sinais fechados. Cruzamentos fatais.
Olhando assim as unhas, querendo mais vodca barata, minto um sorriso.
É preciso parar de desejar a morte. Desejar a vida. Não dá.
A noite ainda é uma criança e o show tem que continuar...
3 comentários:
Que texto maravilhoso e intenso! Consegui imaginar a cena. Parabéns!
Bjs, Cechetti.
EDÍSSIMO!!! de onde sai uma coisa linda assim??? você agora me lembrou uma querida amiga, Lu Dias, ela escreve assim, como você... e ela mora na Frei Caneca e tem sempre unhas vermelhas, embora, claro, ela não seja a meretriz que você descreve... ela é poeta, amante da vida, como você... que parece ter espirito feminino as vezes.... amei amei amei!
beijos e obrigada pelo texto! publica isso!!! Ah!!! uma pregunta: eu posso usar seu texto no blog e citar voce quando eu quiser? e muito mal isso? tem texto tao lindo que eu queria que outros lessem..
Ed, ce ja reparou na formalidade da tia Dri???
ela e linda, maravilhosa, engracada, inteligente e sua amiga, mas é certinha que é uma coisa... que a gente tem que fazer pra liberar essa muié????
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