Vejo uma menina sentada usando uma saia de tule.
Encostada em uma parede roxa, dentro de um apartamento que parece ter sido invadido.
Um disco riscado e uma luz azul.
Uma garrafa de qualquer coisa que está pela metade
O veneno que escorre dos olhos da menina borra o lápis muito preto, desenhando em sua face branca a forma de um grito.
Suas mãos estão caídas sobre o colo, a meia vermelha esconde o branco das pernas cansadas de caminharem para lugar nenhum.
A menina chora sem doer
Dói sem saber que naquela saia de tule, naquela parede roxa, naqueles braços brancos, está sua história.
E toda a fúria do mundo
Aquela menina sentada, borrada.
Uma fotografia antiga, suspensa.
Tudo ali, naquele lugar está revirado.
Mas o que mais me perturba não é bagunça, nem a saia de tule, ou as bitucas queimando o tapete de veludo.
Não é aquela luz azul, nem essa maldita parede roxa.
O que me faz querer fugir, gritar, me lançar da janela direto para o abismo, é o desenho na face clara.
Aqueles olhos.
Eu conheço bem, aquela menina, no canto da casa com a maquiagem borrada ouvindo um disco riscado, é a Angústia.
Que ainda está lá.
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