terça-feira, outubro 26, 2010

Tristeza Borrada

Vejo uma menina sentada usando uma saia de tule.
Encostada em uma parede roxa, dentro de um apartamento que parece ter sido invadido.
Um disco riscado e uma luz azul.
Uma garrafa de qualquer coisa que está pela metade
O veneno que escorre dos olhos da menina borra o lápis muito preto, desenhando em sua face branca a forma de um grito.
Suas mãos estão caídas sobre o colo, a meia vermelha esconde o branco das pernas cansadas de caminharem para lugar nenhum.
A menina chora sem doer
Dói sem saber que naquela saia de tule, naquela parede roxa, naqueles braços brancos, está sua história.
E toda a fúria do mundo
Aquela menina sentada, borrada.
Uma fotografia antiga, suspensa.
Tudo ali, naquele lugar está revirado.
Mas o que mais me perturba não é bagunça, nem a saia de tule, ou as bitucas queimando o tapete de veludo.
Não é aquela luz azul, nem essa maldita parede roxa.
O que me faz querer fugir, gritar, me lançar da janela direto para o abismo, é o desenho na face clara.
Aqueles olhos.
Eu conheço bem, aquela menina, no canto da casa com a maquiagem borrada ouvindo um disco riscado, é a Angústia.
Que ainda está lá.

Nenhum comentário: