Sentada, descalço, pinto as unhas dos pés de vermelho.
Vermelho vivo, quente, como sangue que pulsa.
Olho ao redor, a minha pequena sala vazia
Grande merda.
Algodões brancos separam os meus dedos
Cheiro forte de acetona.
Penso em descolorir os pelos das pernas, bicarbonato, tão anos 80.
Lembro-me da infância perdida, do sonho perdido.
Da música que tocou.
Sábado à noite, sozinha, melancólica pinto as unhas do pé.
Não são nem dez horas da noite, to bêbada, uma garrafa de vodca pela metade.
Sentada no sofá rasgado, roxo, vestindo uma camisola, me preparo para dançar.
Quem se importa?
Ainda falta escolher a roupa, arrumar o cabelo, chamar o táxi.
Sair.
A noite longa me espera. Sinto-me suja, inadequada.
O que importa?
É a vida baby! No som qualquer coisa que me distraia
Olho pro telefone mudo.
Alguém vai ligar, sempre liga.
As histórias se repetem.
Sozinha. Ainda é sábado e a noite mal começou.
Não quero um amor, não quero problemas...
Se pinto as unhas, a face o cabelo, se quero outra coisa é por isso.
O amor não é pra mim.
Assim fudida, fracassada, unhas vermelhas, vejo a imagem na TV sem som.
Respiro fundo, tenho vontade de morrer.
Não nessa noite que nem começou, talvez amanhã antes do jantar.
Querendo mais vodca, desejando ser mais magra, mais loira, mais fatal.
Suspiro.
O telefone toca.
E apesar do vazio, da busca constante, do querer mais além, eu atendo.
Afinal hoje é sábado!
E assim tentando ser despretensiosa
Eu só quero.
Tudo que eu quero
É dançar.
Um comentário:
Ai Ed.... como vc é sensivel, consegue escrever td oq a gente sente e nem percebe!! adorei...Beijos
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