É um exorcismo necessário.
Acontece ao menos duas vezes por ano.
Eu volto.
Eu paro.
Eu arrumo uma mala bem bonita e vou.
Os dias que antecedem a viagem são dias enfadonhos, de ansiedade desnecessária, penso muito em não ir.
Em não voltar nunca mais. Mas eu volto.
Eu sempre volto.
E quando chego, depois de seis horas, sinto vontade de chorar, alivio, dor e arrependimento de estar lá, tudo isso misturado com a vontade enorme de ver minha mãe, tomar seu café e comer o pão caseiro feito só para mim, ainda quentinho em cima da mesa da cozinha.
Tudo continua igual nesta terra, os prédios só estão mais velhos, maltratados e mais sujos, as ruas mais esburacadas, mais gastas e mais quentes com o calor que nunca diminuiu.
Tudo parece ter parado no tempo. E o tempo corre arrastado.
A cidade que antes parecia tão grande hoje mal cabe nas minhas lembranças.
E são muitas as lembranças deste lugar. Em cada rua que passo, cada predio ou casa que olho, cada loja que entro... em todos os lugares, há uma parte de mim. Um pedaço da minha história.
E reencontrar isso, esses pedaços... não sei explicar, é tão dolorido.
Olhar para quem eu fui, ficar cara a cara com este cara que ainda vive lá, quietinho, me causa espanto.
É terrivel encontra-lo. E perceber o quanto somos diferentes e quanto de mim já não há mais nele.
Esse meu eu preso no passado é a minha maior verdade, meu mais pesado segredo.
E apesar da dor que é reencontra-lo sei que necessito dele.
Então eu volto.
Para sugar um pouco mais, para pegar um pouco mais desta fonte pura: a essência que me faz viver.
Ele é o melhor em mim.
E depois de alguns dias nessa viagem maluca dentro de mim, nesta cidade maldita, eu volto pra casa. Cheio dele.
Triste e feliz.
Sempre com a impressão que deveria ter sido menos cruel, que deveria ter aproveitado mais o sol e a vida que se vive lá.
Tendo a certeza que o que trouxe dele vai durar pouco, dois dias apenas até ser sugado pela mentira concreta que esta vida se tornou.
Então eu sigo.
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